"Nada
de culpas!" - é a expressão que ouvimos freqüentemente por aí,
principalmente se alguém está contrariando as regras claras de um jogo e o faz
conscientemente, tendo por isso mesmo a certeza de que lá na frente se dará
muito mal. Logo aparece alguém "bem" intencionado e cochicha essas
palavrinhas de "ânimo" ao pé do ouvido, pois afinal, já somos tão
pressionados por tantos traumas, tantas culpas e isso só nos traz doenças... "Coitadinhos
de nós! Sejamos mais positivos, acreditemos mais em nós mesmos! No final dará
tudo certo, acreditemos!". E por um momento sentimos um alívio na
consciência e prosseguimos fazendo tudo errado...
É
interessante ver como hoje há um cuidado excessivo para que não machuquemos a
auto-estima de quem quer que seja, ainda que esta auto-estima apóie-se na clara
desobediência aos mandamentos divinos. Há pregadores até que preferem pregar
apenas as boas novas de salvação, deixando de lado aquela parte do evangelho
que aponta o pecado, as culpas do pecador, ou mesmo a doutrina do inferno, pois
dizem eles: "o inferno é aqui mesmo. Por que falar de inferno, se o
Evangelho é boas novas de salvação? Tornemos a mensagem atrativa e muitos se
converterão!". Será? É assim mesmo que funciona?
Esse cuidado todo em conservar a boa imagem do
indivíduo, ou de ressaltar as suas virtudes é fruto de anos de uma psicologia
que repele toda idéia que trate o homem como um ser "alienado desde a
madre, que anda errado desde que nasceu", como afirmou o salmista (Sl
58.3). Mas qualquer ciência ou filosofia que tenha como pressuposto uma bondade
inerente ao homem, sem considerar sua disposição natural para o pecado e o
caminho errado, é falha e ao final mostrar-se-á inútil para a vida. Tentar
achar dentro de nós a cura para a alma doente é como procurar remédio num
necrotério de corrupção.
Infelizmente, esse pensamento que diz
"cada um por si e Deus por todos" tem invadido as mentes cristãs de
hoje. Não podemos mais pregar, escrever ou conversar até mesmo informalmente
sobre as verdades absolutas da vida sem que nos encontremos com milhares de
pessoas fazendo "beicinho" e batendo no peito, lamentando não as suas
próprias misérias e escolhas erradas, mas lamentando terem sido machucadas em
seus sentimentos e opções de vida. Apontam o dedo e dizem: "você me ofendeu!",
e já tratam de julgá-lo como um terrível opressor que tenta impor suas idéias
pessoais às suas vidas. Essas pessoas não podem ser machucadas.
Ora, o evangelho de Cristo não é apenas um
convite para vir a Cristo e aceitá-lo como um amigo, mas antes deste convite e
da oferta desta maravilhosa bênção é preciso haver uma conscientização dos
próprios erros, das escolhas erradas que fizemos. Deve haver antes de tudo uma
mensagem que proclame: "arrependei-vos dos vossos maus caminhos e
convertam-se ao Senhor!". Não há vida abundante em Jesus se não obedecermos
ao Seu chamado: "quem quiser vir após Mim negue-se a si mesmo, tome cada
dia a sua cruz e siga-me". O segredo do sucesso pessoal está na obediência
aos padrões divinos para a vida. Existe, sim, um padrão a ser seguido. Veja o
que Moisés lembrou ao povo: "E o Senhor nos ordenou que cumpríssemos todos
estes estatutos, que temêssemos ao Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo
bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje. E será para nós justiça, quando
tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o Senhor nosso
Deus, como nos tem ordenado" (Dt 6:24,25).
A verdade, é claro, é que não fomos bem sucedidos em obedecer o padrão de vida estabelecido por Deus e por
causa da nossa desobediência e culpa, fez-se necessária a vinda do nosso Senhor
Jesus. Ele é a nossa justiça. Ele sofreu todo castigo pelas nossas más escolhas
de vida, para que eu e você fôssemos aceitos por Deus. Como é que agora você
vem me dizer: "não me incomode em minhas escolhas?". Sabe, Aquele
santo que satisfez a justiça divina, o único homem perfeito que existiu, ele nunca
ofereceu um caminho fácil aos que se aproximavam e se aproximam dEle. Pelo
contrário, ele chamava à consciência. Mandava calcular os custos do serviço a
ele e a sua propaganda não usava das técnicas de marketing atuais. Ele dizia: "o
caminho do lado de lá é largo e espaçoso. Se você me escolher, no entanto,
sofrerá a perda de bens, de amigos e familiares. A minha bênção você não pode obtê-la
antes de aceitar-me, mas garanto-lhe que estará lá, depois que você me aceitar com
todas essas dificuldades inerentes à escolha". Em outras palavras, a
escolha certa a ser feita primeiro confronta a nós mesmos, primeiro lança por
terra nossas próprias certezas e estilo de vida e então, pela obediência da fé,
experimentamos um antegozo do que nos espera na eternidade. Enquanto estivermos
neste corpo e nesta vida vamos vencendo dia a dia, de fé em fé, de glória em
glória. Um pouco hoje, um pouco amanhã. Sabendo que enquanto estivermos aqui,
precisaremos dia após dia lembrar-se do nosso estado não totalmente redimido, pois
ainda aguardamos a completa restauração deste corpo e mente. Vigiaremos para
que o engano da nossa antiga carne e pensamentos, para que o engano do sistema
mundano dominado por Satanás não nos façam novamente suas presas.
A culpa que sentimos por termos escolhido andar
de costas para Deus não é apenas um sentimentozinho mesquinho, tão protegido
pelos sábios deste mundo e experts em educação. Não se trata apenas de ter uma
auto-imagem adequada (até porque longe dEle nunca conseguiremos refletir a
imagem adequada!). A culpa que gera a vida é aquela que nos faz cair de joelhos
diante de Deus, que nos faz reconhecer nossa falha em confiar no que Ele nos
prometeu. Deus não nos chama para sentirmos remorso, ou para ajustarmos nossa
boa imagem diante de alguém de quem esperamos louvores. Isso não passa de
reflexos do próprio orgulho que mata a verdadeira vida. Ele quer ver arrependimento,
verdadeiro arrependimento. Remorso nos dá uma momentânea sensação de vergonha
diante de um fato ou pessoa, mas passa rapidamente e não produz frutos para a
vida eterna. O arrependimento nos leva a um quebrantamento diante de Deus por
termos desprezado a Sua Palavra e por não termos escolhido viver por fé.
Então, da próxima vez em que os padrões
absolutos da palavra de Deus brilharem em seu entendimento, não se ofenda! Não
queira achar dentro de você mesmo a verdade para sua vida. Seus pensamentos e
planos de vida são falhos e nunca o levarão a experimentar a vida abundante que
tanto você procura e que somente Deus pode dar em Cristo. A verdade não pode
ser encontrada em nós - ela está fora de nós. Diante dela apenas nos curvamos. É
por isso que tanto os que já foram convencidos, como os que se encontram com
ela precisam render-se. Deus não somente está interessado numa fé saltitante
nele (parece que disso temos muito hoje), como em que o arrependimento, a
concepção da própria culpa preceda estas alegrias. Como disse Spurgeon: "estou
convencido de que o arrependimento parece ser o irmão gêmeo da fé. A fé não vem
com olhos secos, mas com grande choro e súplica e desejo ardente de encontrar refúgio
na justiça divina - Jesus".
Eu estou convencida de que a verdadeira
tristeza pelo pecado, aquele confronto da verdade de Deus com o nosso eu, trazendo
pesar e dor para o homem na carne, acompanha toda vida do cristão. E quanto
mais nos aproximamos de Deus e da Sua vontade, tanto mais rejeitaremos o modelo
de vida do mundo, não porque somos melhores, pelo contrário, porque conhecemos
nossas inclinações naturais com muito mais profundidade do que quando abraçamos
a fé. À medida que caminhamos ao lado de Deus, à semelhança do Peregrino, vamos
deixando antigos hábitos, os velhos modos de vida para abraçar a vontade de
Deus. E nesse novo modo de viver conhecemos o tesouro de se possuir a Cristo,
ao mesmo tempo em que nos entristecemos pela vida de outrora, pelo tempo em que
perdemos de usufruir das delícias do Seu amor e provisão.
O sentimento de culpa pela rebelião aos padrões
divinos permanece durante toda a vida do crente verdadeiramente salvo. Trata-se
de uma tristeza piedosa que nos faz morrer dia a dia para nossas inclinações e
viver para Deus. Não é mais uma tristeza amarga, mas uma doce tristeza que nos
leva para mais perto de Deus. Enquanto vivermos aqui precisaremos estar
constantemente em xeque para não seremos mortos pelos nossos próprios desejos.
O incômodo no coração, o mal-estar consigo mesmo lhe levará para o Pai,
reconhecendo sua petulância em viver longe daquele que é a fonte da vida.
Lembre-se sempre de que Deus nunca quer
estragar os bons sonhos de vida. Ele não é um estraga-prazer, como a antiga
serpente sempre nos fez crer, desde o Éden. "Ele não quer que você seja
feliz", ela sussurra. O sentimento de culpa por ter escolhido um caminho
mal é o começo de uma escolha acertada. Não resista a luz da verdade quando
brilhar em seu entendimento! Deus é tão bom que envia o Seu doce e terno
Espírito para convencer-lhe de que não é por aí, não é por este caminho, mas
por aquele outro caminho. E quando Ele mostra, é porque ainda há esperança!
Há uma vida abundante do lado de lá! Abafe a
voz do seu coração e ouça a voz da verdade, quando clamar! Deixe entristecer-se
e finalmente corra para o Pai pedindo perdão. Spurgeon, em um dos seus sermões
sobre o verdadeiro arrependimento, comparou essa insistência em não aceitar a
vontade de Deus, que começa pelo reconhecimento da culpa, a uma criança que fez
algo de errado e insiste em não se humilhar e pedir perdão. Enquanto ela tenta
esconder seu erro, ela é infeliz. O tempo todo em que ela endureceu a si mesma,
ela era miserável, ela sabia que era! Ela perdeu o beijo de boa noite de seu
pai e o sorriso de sua mãe. E enquanto a teimosia durou, ela pensava que era
muito corajosa, mas na verdade ela era muito infeliz. Mas, quando finalmente
ela reconhece e diz: "Pai, mãe, eu estava muito errada em fazer o que eu
fiz e eu realmente sinto muito". Então, ela recebeu o beijo do pleno
perdão! E aquele foi um momento em que ela se sentiu mais feliz em toda a sua
vida!
É esse o caminho que o filho de Deus sempre precisa
trilhar. Sempre que a verdade confrontar nossas escolhas rebeldes, corramos mais
uma vez para o Pai Celestial com aquela tristeza "segundo Deus", que
opera a salvação, da qual ninguém se arrepende de tê-la sentido! (2 Co 7.10).
Caia nos braços do Pai e ganhe o doce beijo de Seu amor que perdoa e lhe dá uma
nova chance!
Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. (Tiago 4:9)
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Adna S Barbosa
Texto maravilhoso! <3
ResponderExcluirAmém!
ExcluirQue lindo 😍
ResponderExcluirAmém. Deus abençoe o escritor por esta maravilhosa e profunda reflexão. Obrigado por Nos trazer este endendimento, uma vêz que Nos faltam instrutores para noslevar a tal conhecimento.
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