O caso da filha da Maria do Rosário é o teste final sobre o feminismo e sua aplicabilidade na prática. Você pode determinar o que as pessoas crêem que devem fazer pelo que esperam que os outros façam para elas.
Vamos tentar reduzir os princÃpios morais básicos do feminismo a um absoluto moral básico, uma coisa certa fundamental a ser feita. O filósofo alemão Immanuel Kant identificou este principio moral absoluto como "imperativo categórico", um dever incondicional obrigatório a todos. O imperativo categórico refere-se à moralidade. A coisa certa é aquilo que você desejaria que todos fizessem nas mesmas circunstâncias. Em suma, é algo que você pode universalizar para todos.
Perguntemos: "As regras (ou a falta delas) subjacentes aos meus atos podem tornar-se uma lei universal?".
Usemos algumas do feminismo: podemos tornar obrigatória a saÃda de todas as mulheres do lar para que desenvolvam suas carreiras no "mundo público", no mundo dos homens (como elas afirmam), sem afetar o futuro da humanidade? Podemos matricular todas as crianças em creches sem ter nenhum prejuÃzo à saúde dessas crianças? Podemos tornar o aborto uma prática normal para todas as que não tiverem programado uma gravidez, sem que isso traga um ônus maior à saúde da mulher? Podemos liberar todas as regras morais (uso de drogas e sexo à vontade) sem ter prejuÃzo à integridade da pessoa?
Se a resposta foi NÃO, então essas premissas estão todas erradas. Se a ideias feministas fossem universais, então não haveria mais crianças para nos substituir num futuro próximo, e as que nascessem, estariam confinadas às creches; não haveria saúde pública que pudesse dar assistência às inúmeras mulheres como as filhas de Maria do Rosário: liberadas sexualmente, drogadas, anoréxicas, quase mortas. A pergunta é: Você gostaria de ter uma filha como à de Maria do Rosário?
Se o feminismo fosse regra universal, então não haveria mais crianças para se liberar, não haveria mais casamento para se insurgir e o feminismo seria então impossÃvel de se praticar (é para isso que caminha). O feminismo universal é autodestrutivo. Do mesmo jeito que o homicÃdio é autodestrutivo e errado. Se o homicídio fosse uma lei universal, não haveria mais pessoas para serem mortas. Emmanuel Kant afirmou, por exemplo, que fazer um empréstimo sem ter meios ou intenção de pagá-lo infringe esse imperativo categórico. Se todos seguissem esta prática, toda a instituição das promessas humanas entraria em colapso. Ele deduziu ainda que recusar ajuda aos que passam dificuldades é imoral para os que têm meios. Caso contrário, se você entrasse em crise financeira, disse Kant, não receberia ajuda.
No âmago disso tudo está uma lei moral irredutível: Trate sempre as pessoas com o valor que elas merecem, e não como um trampolim para seu sucesso. Veja as pessoas como se fossem você mesma e nunca como um meio para alcançar objetivos pessoais. E o feminismo vai de encontro a essa regra. O feminismo é essencialmente egoÃsta. A vida da Maria do Rosário mostra isso.
Martin Buber, filósofo judeu do século XX, também mantinha como absoluto moral que as pessoas devem ser tratadas como fins e não apenas como meios. Filhos não são objetos de realização pessoal, mas são pessoas que precisam de atenção, amor e cuidados. "As pessoas devem ser amadas, e as coisas devem ser usadas. Jamais devemos usar as pessoas e amar as coisas", disse Buber.
Não precisamos ser filósofos para entender isso. Jesus já falou da regrinha básica para a vida: "Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles" (Luc. 6:31).
O teste mais básico da moralidade de uma ação está arraigado nas expectativas morais da própria pessoa. A forma como agimos não determina o que é certo, mas a forma como queremos ser tratados pelos outros nos diz o que realmente acreditamos ser correto. GostarÃamos de ter uma mãe relapsa, liberada de regras, e que finalmente pudéssemos nos encontrar em total vergonha como aquela moça?
Agora, pense no feminismo nesses termos, antes de sair por aà achando que está fazendo a melhor coisa pra humanidade. A única coisa certa a fazer é aquela regra que pode transcender as culturas e religiões. E a resposta está na experiência humana.