Sexualidade: quando ensinar?

16:49:00

No dia a dia da vida como pais e mães de crianças pequenas, quase sempre ficamos duvidosos quanto aos ensinos que devemos transmitir e o melhor momento de fazê-los. Sabemos, como disse o sábio, que para tudo há um tempo e um modo (Ec 8.5). A grande questão é: este é o tempo certo? Estou fazendo direito? 
Entre vários assuntos, acredito que o mais temido pela maioria dos pais é o que trata das questões sexuais. Pensamos: “quando devo falar sobre sexo, procriação, impulsos sexuais etc? Será que devo me antecipar para que outro não ensine da forma errada? Por onde devo começar? Devo ser direto, dando ‘nomes aos bois’, ou falar superficialmente, para proteger a intimidade? ”.
Acrescente a isso a quantidade de vozes que dizem: “Seja franco e aberto! Fale sobre tudo! A sexualidade é um presente de Deus, portanto, nada de cerimônias! Transmita este ensino da forma como ele foi originalmente criado: para satisfação do homem e da mulher. Não há nada de feio e de errado nisso”. O outro extremo diz: “De forma alguma fale sobre isso. Isso não precisa ser ensinado, pois faz parte da natureza humana. Quando crescerem, eles mesmos descobrirão. Esse é um assunto totalmente vedado”. São dois extremos. Sem falar que essa angústia pode acentuar-se ainda mais diante dos apelos da mídia, dos avanços tecnológicos e da educação extremamente liberal que as outras crianças recebem nas escolas e em casa.
Não tenho a pretensão de ensinar quem quer que seja, mas gostaria de compartilhar nossa resolução como pais de crianças que vivem esse dilema.
Acredito que a primeira questão a se considerar é o tempo. Que idade é mais apropriado falar? Minha mãe (que não é nem doutora, nem professora, nem psicóloga, mas era uma amante da Palavra de Deus) usava sempre um texto quando se tratava disso: “não acordeis nem desperteis o amor, até que queira” (Ct 8.4). O que isso quer dizer? Que o amor está lá, sim, desde que nascemos, e tudo que o acompanha. Aquele amor romântico, que se atrai pelo amado. A jovem de Cantares faz essa petição: que o amor jazesse dormente, até que o momento exato chegasse. Nada de insinuações, de imagens provocativas, olhares apaixonados, histórias que instiguem a imaginação e outras semelhantes. Esse tipo de sentimento não pode ser forçado.
Que nossas crianças sejam crianças até que a maturidade as alcance. Há um tempo certo para todas as coisas debaixo do sol. Cabe a nós, pais, a atenção, a vigilância, o cuidado. Lembra da parábola?
“Considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também (…). Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim” (Mateus 24:43–46).


Nessa passagem, o Senhor Jesus falava sobre a Sua volta inesperada, súbita. O que quero enfatizar aqui, é o exemplo usado: o pai de família vigilante. É dito deste pai que se ele soubesse a que horas viria o ladrão, ele se manteria vigilante. Provavelmente, cercaria-se de todo o cuidado, reforçaria a segurança no seu lar para que o ladrão não tivesse sucesso em sua investida.
A figura do pai, usada por Jesus, é muito pertinente a nós, pais do século XXI. O ladrão, o inimigo de Deus, “anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5.6). Suas investidas hoje, muitas vezes, são tão sutis que nem percebemos. Aliado a isso, temos a irrealidade do mundo virtual ou tecnológico que faz com que subestimemos a influência maléfica que podem nos causar. Protegemos nossas crianças de todo jeito e os discursos contra a violência à criança são os mais falados. São tantos os termos: pedofilia, abuso emocional, assédio moral, bulling… Trancamo-nos em prédios ou condomínios com a única intenção de proteger nossas crianças.
No entanto, lá dentro das suas casas, no lugar onde deveria ser um santuário ao Senhor, lá, bem no meio da sala ou até mesmo na frente da cama das doces crianças, há uma TV. E geralmente permitem que elas assistam o que queiram, na hora que acharem melhor. E o conteúdo das programações televisivas apelam quase que 99% ao erotismo ou à sexualidade precoce. Sem falar dos livros que entram e saem de nossas casas sem que os examinemos, ou das atividades que nossas crianças são submetidas diariamente na escola sem a nossa supervisão e orientação. Sequer dialogamos com elas sobre suas rotinas porque estamos muito ocupados, distraídos com as atividades do mundo adulto. Enquanto, bem diante de nós, a infância se perde no meio das vozes maléficas do mundo dominado por satanás.
Uma mãe atenta sabe quando as coisas não estão bem. Um gesto, uma palavra, um desejo despertado, pequenas palavras e opiniões serão grandes sinais para a formação desta criança. Protegeremos o quanto pudermos e enquanto isto estaremos atentos aos sinais. À medida em que as dúvidas surgirem, estaremos ali para explicar-lhes com o devido respeito que o assunto exige. Sem vulgaridades, sem brincadeiras vis, sem excesso de formalismo e muito menos de falsa santidade. Falaremos até onde eles questionarem. Sempre com a Bíblia ao lado, guiando a conversa.
Não há nada feio nem errado com nossas inclinações sexuais. Todas elas foram criadas por Deus e tudo o que Ele faz é bom. Mas precisamos atentar para os efeitos pervertedores do pecado: ele corrompeu toda a criação de Deus, inclusive nossos instintos sexuais. As mãos e os olhos, por exemplo, são boas criações de Deus que nos ajudam em inúmeras atividades da vida, mas, se eles fazem pecar, Jesus disse, “corte-os e lance-os para longe de ti…” (Mt 5.30). Esses instintos, criados originalmente para a satisfação do homem e sua procriação, agora são usados para a prática do mal. O pecado fez e faz isto no ser humano: transforma o bem em mal. A lei de Deus que é santa, justa e boa, por causa do pecado, desperta em nós todo tipo de mal.
Diremos então que o impulso sexual é pecado? É claro que não! Mas por causa do pecado, tenho nos membros do meu corpo todo tipo de inclinação para o mal. Mas, se eu não soubesse que algumas inclinações sexuais não são naturais, ou que outras terão de esperar pelo tempo certo, o pecado seria uma coisa morta. A inocência protege as crianças das suas próprias inclinações más (que estão lá, adormecidas). Mas, quando o conhecimento desperta para a realidade do que podemos ou não, consequentemente seremos levados a meditar nisso e é aí que o pecado se manifesta em nós. Aquele conhecimento que deveria trazer vida, traz a morte. O pecado mostra, então, sua face horrenda, enganando-nos e por fim, matando-nos. Ele muda o que é bom para trazer a morte para que fique bem claro aquilo que realmente é. E assim, por meio do conhecimento do que é correto, o pecado se mostra mais terrível ainda (leia Romanos 7).
Pensando nessa realidade e nessa luta que travamos com o pecado dentro de nós, devemos considerar o mal intrínseco no coração da criança. Ensinar-lhes sobre questões sexuais apenas as colocará em contato com o pecado adormecido, e a partir daí, elas terão que aprender também a lutar contra ele, e eu acho que antecipar essa realidade é submetê-las a um jugo muito pesado. Qualquer pequeno benefício que essa antecipação possa trazer é prejudicado de longe pelos enormes prejuízos que esse conhecimento causará a essas crianças.
Portanto, alimentemos nossas crianças com “manteiga e mel, até que elas saibam rejeitar o mal e escolher o bem” (Is 7.15). Treinemos nossos filhos ensinando o que é bom, fazendo-os conhecer perfeitamente a verdade. Observemos a caminhada deles atentamente e estejamos de prontidão. Cabe somente a nós impedir que elas tenham acesso a qualquer ensino que vá prejudicar o bom andamento de suas vidas.
Elas precisam ter em nós a voz que guia e o ombro em que encostam. Nada mais fará sentido para eles que a nossa presença madura e permanente. Ainda que haja preconceito na escola, menosprezo no grupo de amiguinhos, ou ainda que eles pareçam cafonas e atrasados diante das crianças “espertas” desse mundo; o que vai ficar é aquele momento quando chegam da escola, e encontram uma mesa posta exclusivamente para eles e ali podem contar com a atenção de seus amorosos pais, que conversam, procuram saber sobre sua vida, e dizem que eles são especiais…
O que vai fazer a diferença para eles é a certeza de que são aceitos pelos pais do jeitinho que são, com deficiências, limitações, anseios… O que importa é fazer com que nossos filhos vivam a infância livres dos problemas de adultos, num lar onde reina o amor, a pureza e a união. Onde a TV não impõe suas regras sujas, onde o vídeo-game não vicia, onde a simplicidade reina absoluto.

É esse o lar que quero pros meus filhos. Quero que eles vivam cada etapa da vida sem pressão, sem exigências, sem neuroses. Um dia, todos chegaremos lá. Tenhamos coragem para sermos os defensores da integridade moral, espiritual e física dessas crianças. Afinal, somos seus pais, escolhidos por Deus para amá-las e guiá-las por este mundo de trevas e finalmente, apresentá-las a Jesus, santas e purificadas pela Palavra (Ef 5.25–27).
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Adna Barbosa

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