Vivemos tempos difÃceis, todos sabemos. Vivemos em tempos, sobretudo, contrários à qualquer lógica. Não há consistência nem coesão nas ideias, não há, muito menos, concordância entre as palavras e as ações; o mundo caminha numa loucura tal, que nem sabe em que tropeça (Pv 4.19).
Claro, tudo começou lá no Éden, com uma sementinha do maligno, a semente da soberba, lançada à Eva. A mulher olhou para dentro de si mesma e influenciada pela serpente cobiçou a possibilidade de ser mais e fazer mais do que aquilo que lhe havia sido designado. O resultado? Caos. Sim, o egoÃsmo sempre leva ao caos, desde lá. Mas o homem não percebe as manobras que a serpente faz neste século. Não percebe que os problemas sociais e econômicos de uma nação acontecem porque homens e mulheres abandonaram seus papeis originais. Não percebe que as guerras, as crises econômicas são apenas o mal pessoal em grande escala. Lembro de uma cena do filme "O Pássaro Azul" (1940), quando a famÃlia é surpreendida com a notÃcia de que o pai iria para a guerra. A filha, que a poucos minutos mostrara-se insatisfeita com a vida que levava, abraça-se com o pai e pergunta: "O que faz a guerra afinal?". O pai responde: "A mesma coisa que causa problemas em todo lugar: a cobiça, o egoÃsmo... aqueles que não se contentam com o que tem". Ela responde: "Mas o senhor não é assim, papai". O pai aproveita e transmite o ensinamento: "Eu já lhe disse o que está errado... Você não pode ser infeliz dentro de si mesma, sem tornar os outros também infelizes, lembre-se disso". O filme inteiro baseia-se nessa verdade, que o mundo não pode ser melhor se nós não formos melhores, se não houver altruÃsmo, verdade, beleza e perdão dentro de casa. Se não exercitarmos essas virtudes no dia a dia da vida pessoal.
Sim, a causa de todos os nossos problemas reside
primeiramente na esfera pessoal e privada; reside no abandono dos papeis dentro
do lar e da forma como abolimos a primazia da famÃlia em favor do mundo lá
fora, da vida pública. Não é de estranhar que quanto mais estudamos e
aumentamos os Ãndices de alunos alfabetizados, mais crescem os homicÃdios, os
desrespeitos, as brigas, as infrações, as violências. Quanto mais leis, mais
transgressões. A demanda por profissionais da educação aumentou porque mais e
mais são as famÃlias que terceirizam os cuidados dos seus filhos e por isso
mesmo necessitam da intervenção de "peritos da educação", para dar
jeito naquilo que eles abandonaram dentro das suas casas - seus próprios
filhos.
Tenho filhos no ensino fundamental. Na minha época, nesse
estágio, ensinava-se a ler e a escrever. TÃnhamos muitos cadernos de caligrafia
e precisávamos aprender as palavras com a ortografia correta, mesmo que não
soubéssemos as regras por detrás das palavras. Mais tarde entenderÃamos o
porquê das palavras terem regras. Hoje, percebo uma grande mudança na educação
das crianças que vão para a escola. O foco agora é: "não jogue lixo nas
ruas", "faça a coleta seletiva", "trate bem o idoso e o
deficiente fÃsico", "cuidado com as leis de trânsito" etc.
Assuntos que eram questões de famÃlia, de educação doméstica, hoje são assuntos
de burocratas do estado ou dos profissionais da educação. O que muitos não
percebem é que a deseducação de uma classe de pessoas é, em proporções
ampliadas, a falta de educação de uma famÃlia que rejeitou o seu papel educador
no lar. Todos os grandes males do mundo e da sociedade em que vivemos
aconteceram primeiro numa briga entre duas pessoas da mesma famÃlia, ou da
mesma empresa, ou foi uma disputa entre o marido e a mulher, entre o filho e o
pai, entre empregados e patrões.
O que muitos não percebem é que a deseducação de uma classe de pessoas é, em proporções ampliadas, a falta de educação de uma famÃlia que rejeitou o seu papel educador no lar.
Como todos precisam de causas para lutar, muitos desta
geração por não possuÃrem aquela formação que somente uma famÃlia pode dar,
descambam para um ativismo vazio e inconsistente. Não são poucos os jovens que
advogam causas humanitárias e ecológicas, que rasgam suas vestes por mais
direitos humanos, que empenham-se em discutir grandes assuntos de paz, mas, na
privacidade, rasgam os direitos dos pais, do colega de quarto, burlam as regras
de onde estão se estas ferirem seus caprichos pessoais de comodidade e
bem-estar. Preocupam-se com a preservação do macaco, mas apoiam o assassinato
dos bebês. Alguns ativistas ambientalistas chegam ao cúmulo de negar a natureza
deles mesmos (se isso atender ao seu egoÃsmo inato) ao defender o crescimento
populacional zero em prol do bem-estar da natureza (como se eles, ao gerarem, não
fossem a natureza sendo ela mesma!).
Boa parte destes jovens cresceu ouvindo a cantiga da "auto-estima", a cantiga lá do Édem. Muitos deles nunca foram contrariados em seus desejos. Foram convencidos que o mundo devia favores a eles. Enquanto cresciam, tentaram encontrar em tudo o que liam ou em toda situação que viviam uma justificativa para seus atos egoÃstas, pois, afinal, o mundo é sobre eles. O que eles não perceberam é que o todo depende da harmonia das partes. E nisso, o "eu" não é o mais importante, senão o "outro+eu". Você então descobre que essa história aqui não é sobre você, mas sobre Aquele que fez tudo e fez o mundo para ser habitado por homens que compartilhassem de relacionamentos que refletissem a unidade da Trindade. A criação se completa com a adição de outro ser cujo relacionamento profundo, de corpo e alma, resultaria em outro ser à imagem e semelhança deles mesmos, à exemplo da criação divina quando fez o homem à sua imagem e semelhança. E como toda natureza criada recebeu a ordem divina para reproduzirem-se e recriarem-se, Deus, ao fazer o homem, diz: "Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente... E a todo o animal da terra... e assim foi. E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto" (Gênesis 1:28-31).
Como criação divina podemos viver em perfeita harmonia se atentarmos para as diretrizes do Criador. Para isso, é preciso mais que uma ética familiar. É preciso uma ética pessoal, ou seja, uma mudança do indivÃduo, uma mudança de pensamento - deixar de pensar em si mesmo como o centro do universo, para pensar em si como parte de uma grande história escrita por Deus. É preciso entender que a verdade pessoal determina, em última instância, a verdade universal, e que por isso mesmo, por entender toda a obra criada, foi que o Seu Criador traçou um modo de vida que atingisse essa unidade universal. Não dá para inverter essa lógica divina, por mais que tentemos. Negar nosso papel na humanidade é lutar contra a natureza. E lutar contra a natureza é atrair para si mesmo problemas e dores.
Essa é uma verdade tão simples, mas o diabo tem cegado os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz da verdade
divina. Tal como no Éden, ele lança suas sugestões e tentações contra a mulher.
Ele odeia famÃlias e sabe a mulher é fundamental para a construção de sólidos
lares. Desde que tornei-me mãe, tenho percebido que muitas mulheres casadas e
em idade reprodutiva rejeitam deliberadamente a maternidade. E essa rejeição
aparece de duas formas: ou em desculpas vazias, alegando ter a mulher-mãe
direito de terceirizar o cuidado dos seus filhos entregando-os aos outros (é a
forma de rejeição mais comum e mais branda, pois não nega a necessidade de
procriar, gerar, ainda que com danos à criatura gerada) ou aparece na forma de
rejeição premeditada e deliberada por não gerar fisicamente filhos.

Não sei se vocês
perceberam, mas aqui está mais uma sutil armadilha que o inimigo lança na vida
do homem, fazendo-o mudar a natureza
divina posta nele mesmo para louvor e glória do nome de Deus. Sim, pois a famÃlia
(pai, mãe e filhos) é o projeto primeiro de Deus para a glória do seu próprio
nome. Em Malaquias 2.15 nos mostra claramente que Deus torna homem e mulher
numa só carne para deles fazer uma "descendência para Deus", uma geração
de piedosos. O plano da redenção de Deus, como bem enfatizou John MacArthur,
envolvia um número incontável de filhos e filhas (Ap 7.9-10). Cada criança
personificava a esperança de que pecadores pudessem ser redimidos por aquele
que viria da semente da mulher. Paulo, mais tarde, dá um enorme valor à geração
de filhos ao afirmar que a mulher seria salva dando à luz filhos. De Gênesis a
Apocalipse observamos que o nascimento de um filho era sinônimo de bênção
divina. Cada filho gerado era visto como dádiva divina, bênção do Senhor.
Não podemos negar a verdade divina sem que soframos as
conseqüências disso. Quando um casal decide desviar-se do plano divino,
fatalmente essa escolha pessoal e privada trará conseqüências devastadoras para
as gerações seguintes (lembra que a verdade pessoal determina a verdade
universal?). Como disse Steve Ham: "A humanidade nunca foi e nunca será
capaz de ignorar a Palavra de Deus escrita sem maiores conseqüências
geracionais".
Quer ver? Essa tendência é vista principalmente nas nações
ricas. Casamento não é mais sinônimo de ter filhos. Mas qualquer amante da
natureza e do bem-estar social deveria entender que menos bebês significa menos
força de trabalho e maior longevidade de idosos. Para uma nação significa mais
despesas médicas e altos custos previdenciários, o que pode trazer sérios
riscos à economia de um paÃs. Você entende por que os governos europeus fazem
campanhas para convencer casais a ter mais filhos? São licenças-maternidade e
paternidade enormes, são "bolsas" (dinheiro mesmo) para cada criança
nascida numa famÃlia. No Brasil, essa tendência mostra-se cada vez mais real
entre casais de poder aquisitivo alto (difÃcil de entender, pois estes deveriam
ser os principais procriadores de crianças). Pensar no impacto que um bebê
provoca nas contas domésticas é ter uma visão de curtÃssimo prazo. Muito mais
prejuÃzo esses casais trarão não somente em suas vidas, pois terão que carregar
o ônus pela rejeição do seu papel natural, mas principalmente à geração que se
seguirá a deles.
A procriação, portanto, faz parte do plano divino para o
homem e deveria ser uma das principais razões para o casamento. Claro, excluo
aqui aqueles que por motivos alheios à sua vontade não podem ter filhos. Como
filhos de Deus precisamos ter certeza do que nos motiva, e ao considerar esse
assunto devemos excluir toda atitude egoÃsta, que tem sido a principal causa
para a escolha de não ter filhos. Aliás, a principal causa da queda de
fecundidade deve-se à consolidação da mulher no mercado de trabalho.
Intrigante, não é? Começou com uma primeira rejeição ao papel divino
fundamental, aumentando o abismo para escolhas cada vez mais distantes do plano
original de Deus para sua vida. O fim? Uma nação quebrada. Uau! Que poder tem
mesmo uma mulher!
Mas esse mesmo poder pode ser construÃdo inversamente. Se
aceitarmos viver a vida que Deus nos deu dando valor ao papel singular
executado dentro das quatro paredes do lar, emprestando o nosso corpo para que
a vida nasça e cresça, experimentaremos outro tipo de sociedade: veremos uma nação
forte, com jovens fortes e preparados para o trabalho, civilizados e prontos para aceitarem o
desafio de lutar pela vida que há de ser gerada pela união dos seus corpos e
assim se seguirá o ciclo de crescimento.
Se de fato nos preocupamos com os rumos da humanidade, se
queremos realmente "salvar" esse mundo, o desejo de ter uma
"semente de piedosos" será a primeira convicção irresistÃvel,
fazendo-nos priorizar a famÃlia e o legado piedoso que dela virá. Essa será uma
luta coerente e uma bandeira digna de ser hasteada. Somente quando você e eu
aceitarmos a Palavra de Deus como verdade absoluta é que poderemos restabelecer
gerações perdidas. O casamento e o que dele vem como fruto é a forma como Deus
mostra ao mundo o mistério profundo da obra de Cristo. Há um custo pessoal para
se seguir Jesus. Há um custo também quando casamos. Se somos casados devemos
perguntar: "meu casamento é um palco da glória de Deus ou a negação de Sua
vontade?"
Negar a paternidade nada mais é do que uma rebelião contra
o plano original de Deus. O homem e a mulher distantes de Deus querem o prazer
que o casamento lhes proporciona, mas não aceita as responsabilidades advindas dessa
escolha. Nossos corpos preparam-se todos os meses para fecundar, para gerar
filhos. E se estudarmos um pouco mais a natureza da mulher, veremos como
carregar uma criança traz mais vida à sua vida. Conversei com minha obstetra
sobre isso, e ela me disse que a principal causa de cânceres de ovário e útero
deve-se à escolha deliberada por esterilidade em vez da concepção.
Que essa atitude mundana e carnal não seja aceita nos
cÃrculos cristãos! Não podemos nos conformar com o mundo e isso implica em
aceitar com alegria os bebês como presentes de Deus e potenciais modeladores da
cultura futura. Deus tem para nós plena alegria e satisfação e nunca apatia e
depressão. Mas com Ele, toda verdadeira alegria é fruto de uma piedosa
obediência. Aceitamos seus planos com todos os custos que isso envolve, e
poderemos depois experimentar a verdadeira alegria. Quem quer usufruir do
prazer sexual sem a responsabilidade da paternidade atrai para si mesmo a
depressão e tristeza.
Atribuir à sociedade a culpa que sente pela rejeição do
plano divino em sua vida é tentar tapar o sol com a peneira. É em vão. Não
cumprir com a responsabilidade pessoal é uma escolha de cada um, mas as
conseqüências também virão e poderão até ser compartilhadas, mas de uma forma
distinta desta apontada pelos mundanos. A causa primária da depressão e solidão
dos casais que optam por não ter filhos está no próprio egoÃsmo e poderá
alastrar-se pela sociedade, se esses casais não o assumirem como mal inerente e
não resolverem entre eles mesmos, mudando as escolhas pessoais. O mal que
sobrevém a casais que optam por estas escolhas não é fruto da suposta sociedade
preconceituosa, mas é fruto das suas próprias escolhas. Somos responsáveis
pelas escolhas que fazemos à parte de Deus. "O seu crime o castigará e a
sua rebelião o repreenderá. Compreenda e veja como é mau e amargo abandonar o
Senhor, o seu Deus, e não ter temor de mim", diz o Soberano, o Senhor dos
Exércitos" (Jeremias 2:17-19). "Reveja o seu procedimento e considere
o que você tem feito" (Jeremias 2:23).
De nada adianta discursos sobre a preservação da natureza,
economizar a água, reciclar o lixo, preservar as espécies em extinção e coisas
parecidas, se não reconhecermos a partir de nós que o mundo precisa de mulheres
fecundas e saudáveis, de casais dispostos a criar uma prole. Óvulos femininos
envelhecem. Reprodução humana tem prazo de validade. Carreira e outras
conquistam podem esperar, mas a saúde reprodutiva e o cuidado em criar os
pequenos não esperam.
Se quisermos ser honestos e Ãntegros devemos, antes de
tudo, preservar a nossa espécie e prole, gerando em tempo hábil e priorizando a
boa formação nos anos de base, com a mente certa de que aqueles anos, apesar de
serem ocultos para a maioria dos que nos cercam, serão os mais importantes não
somente das nossas vidas, mas dos pequenos que crescerão rapidamente.
Façamos um bem à natureza. Homem: trabalhe duro para
sustentar essa mamÃfera e tenha muita paciência ao lidar com ela, mas seja
sempre firme e esteja sempre no controle. Mulher: aproveite a saúde que Deus
lhe deu e tenha filhos! Não tenha medo de ser mulher. Tenha medo de ser homem
vestida de mulher! Sua real identidade está lá no berço, no sorriso daquele
rostinho, no choro incontrolável de uma criança, nas roupas sujas e abraços
constantes. Um alerta: isso passa e rápido! Aproveite cada segundo e não
substitua esses momentos por nada. Depois que passa desapercebido o que resta
somente é sentar e chorar.
Aquela velha máxima continua sendo verdade: "as mãos
que embalam o berço governam o mundo". Ajustemos a lógica e veremos a
verdadeira revolução acontecer. De casa para o mundo.
(Adna S Barbosa)