De Casa Para O Mundo

18:44:00



Vivemos tempos difíceis, todos sabemos. Vivemos em tempos, sobretudo, contrários à qualquer lógica. Não há consistência nem coesão nas ideias, não há, muito menos, concordância entre as palavras e as ações; o mundo caminha numa loucura tal, que nem sabe em que tropeça (Pv 4.19).

Claro, tudo começou lá no Éden, com uma sementinha do maligno, a semente da soberba, lançada à Eva. A mulher olhou para dentro de si mesma e influenciada pela serpente cobiçou a possibilidade de ser mais e fazer mais do que aquilo que lhe havia sido designado. O resultado? Caos. Sim, o egoísmo sempre leva ao caos, desde lá. Mas o homem não percebe as manobras que a serpente faz neste século. Não percebe que os problemas sociais e econômicos de uma nação acontecem porque homens e mulheres abandonaram seus papeis originais. Não percebe que as guerras, as crises econômicas são apenas o mal pessoal em grande escala. Lembro de uma cena do filme "O Pássaro Azul" (1940), quando a família é surpreendida com a notícia de que o  pai iria para a guerra. A filha, que a poucos minutos mostrara-se insatisfeita com a vida que levava, abraça-se com o pai e pergunta: "O que faz a guerra afinal?". O pai responde: "A mesma coisa que causa problemas em todo lugar: a cobiça, o egoísmo... aqueles que não se contentam com o que tem". Ela responde: "Mas o senhor não é assim, papai". O pai aproveita e transmite o ensinamento: "Eu já lhe disse o que está errado... Você não pode ser infeliz dentro de si mesma, sem tornar os outros também infelizes, lembre-se disso". O filme inteiro baseia-se nessa verdade, que o mundo não pode ser melhor se nós não formos melhores, se não houver altruísmo, verdade, beleza e perdão dentro de casa. Se não exercitarmos essas virtudes no dia a dia da vida pessoal.

Sim, a causa de todos os nossos problemas reside primeiramente na esfera pessoal e privada; reside no abandono dos papeis dentro do lar e da forma como abolimos a primazia da família em favor do mundo lá fora, da vida pública. Não é de estranhar que quanto mais estudamos e aumentamos os índices de alunos alfabetizados, mais crescem os homicídios, os desrespeitos, as brigas, as infrações, as violências. Quanto mais leis, mais transgressões. A demanda por profissionais da educação aumentou porque mais e mais são as famílias que terceirizam os cuidados dos seus filhos e por isso mesmo necessitam da intervenção de "peritos da educação", para dar jeito naquilo que eles abandonaram dentro das suas casas - seus próprios filhos.

Tenho filhos no ensino fundamental. Na minha época, nesse estágio, ensinava-se a ler e a escrever. Tínhamos muitos cadernos de caligrafia e precisávamos aprender as palavras com a ortografia correta, mesmo que não soubéssemos as regras por detrás das palavras. Mais tarde entenderíamos o porquê das palavras terem regras. Hoje, percebo uma grande mudança na educação das crianças que vão para a escola. O foco agora é: "não jogue lixo nas ruas", "faça a coleta seletiva", "trate bem o idoso e o deficiente físico", "cuidado com as leis de trânsito" etc. Assuntos que eram questões de família, de educação doméstica, hoje são assuntos de burocratas do estado ou dos profissionais da educação. O que muitos não percebem é que a deseducação de uma classe de pessoas é, em proporções ampliadas, a falta de educação de uma família que rejeitou o seu papel educador no lar. Todos os grandes males do mundo e da sociedade em que vivemos aconteceram primeiro numa briga entre duas pessoas da mesma família, ou da mesma empresa, ou foi uma disputa entre o marido e a mulher, entre o filho e o pai, entre empregados e patrões. 

O que muitos não percebem é que a deseducação de uma classe de pessoas é, em proporções ampliadas, a falta de educação de uma família que rejeitou o seu papel educador no lar.


Como todos precisam de causas para lutar, muitos desta geração por não possuírem aquela formação que somente uma família pode dar, descambam para um ativismo vazio e inconsistente. Não são poucos os jovens que advogam causas humanitárias e ecológicas, que rasgam suas vestes por mais direitos humanos, que empenham-se em discutir grandes assuntos de paz, mas, na privacidade, rasgam os direitos dos pais, do colega de quarto, burlam as regras de onde estão se estas ferirem seus caprichos pessoais de comodidade e bem-estar. Preocupam-se com a preservação do macaco, mas apoiam o assassinato dos bebês. Alguns ativistas ambientalistas chegam ao cúmulo de negar a natureza deles mesmos (se isso atender ao seu egoísmo inato) ao defender o crescimento populacional zero em prol do bem-estar da natureza (como se eles, ao gerarem, não fossem a natureza sendo ela mesma!).

Boa parte destes jovens cresceu ouvindo a cantiga da "auto-estima", a cantiga lá do Édem. Muitos deles nunca foram contrariados em seus desejos. Foram convencidos que o mundo devia favores a eles. Enquanto cresciam, tentaram encontrar em tudo o que liam ou em toda situação que viviam uma justificativa para seus atos egoístas, pois, afinal, o mundo é sobre eles. O que eles não perceberam é que o todo depende da harmonia das partes. E nisso, o "eu" não é o mais importante, senão o "outro+eu". Você então descobre que essa história aqui não é sobre você, mas sobre Aquele que fez tudo e fez o mundo para ser habitado por homens que compartilhassem de relacionamentos que refletissem a unidade da Trindade. A criação se completa com a adição de outro ser cujo relacionamento profundo, de corpo e alma, resultaria em outro ser à imagem e semelhança deles mesmos, à exemplo da criação divina quando fez o homem à sua imagem e semelhança. E como toda natureza criada recebeu a ordem divina para reproduzirem-se e recriarem-se, Deus, ao fazer o homem, diz: "Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente... E a todo o animal da terra... e assim foi. E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto" (Gênesis 1:28-31).

Como criação divina podemos viver em perfeita harmonia se atentarmos para as diretrizes do Criador. Para isso, é preciso mais que uma ética familiar. É preciso uma ética pessoal, ou seja, uma mudança do indivíduo, uma mudança de pensamento - deixar de pensar em si mesmo como o centro do universo, para pensar em si como parte de uma grande história escrita por Deus. É preciso entender que a verdade pessoal determina, em última instância, a verdade universal, e que por isso mesmo, por entender toda a obra criada, foi que o Seu Criador traçou um modo de vida que atingisse essa unidade universal. Não dá para inverter essa lógica divina, por mais que tentemos. Negar nosso papel na humanidade é lutar contra a natureza. E lutar contra a natureza é atrair para si mesmo problemas e dores.





Essa é uma verdade tão simples, mas o diabo tem cegado os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz da verdade divina. Tal como no Éden, ele lança suas sugestões e tentações contra a mulher. Ele odeia famílias e sabe a mulher é fundamental para a construção de sólidos lares. Desde que tornei-me mãe, tenho percebido que muitas mulheres casadas e em idade reprodutiva rejeitam deliberadamente a maternidade. E essa rejeição aparece de duas formas: ou em desculpas vazias, alegando ter a mulher-mãe direito de terceirizar o cuidado dos seus filhos entregando-os aos outros (é a forma de rejeição mais comum e mais branda, pois não nega a necessidade de procriar, gerar, ainda que com danos à criatura gerada) ou aparece na forma de rejeição premeditada e deliberada por não gerar fisicamente filhos.


 Li neste texto curioso aqui as várias razões que casais dão para não terem filhos. São hilárias, para não dizer insanas. Engraçado como os autores não chegam a lugar algum em suas conclusões. Como não tem argumentos fortes do ponto de vista da natureza humana para sustentar um casamento sem filhos, apelam para uma pseudo pressão social que os faz sentirem-se à margem dessa mesma sociedade em que foram formados e que essa exclusão (notem: não a negação da natureza) é a responsável pelos problemas de saúde mental desses casais, e, é claro, eles não podem comprovar o que dizem na prática.

 Não sei se vocês perceberam, mas aqui está mais uma sutil armadilha que o inimigo lança na vida do homem, fazendo-o  mudar a natureza divina posta nele mesmo para louvor e glória do nome de Deus. Sim, pois a família (pai, mãe e filhos) é o projeto primeiro de Deus para a glória do seu próprio nome. Em Malaquias 2.15 nos mostra claramente que Deus torna homem e mulher numa só carne para deles fazer uma "descendência para Deus", uma geração de piedosos. O plano da redenção de Deus, como bem enfatizou John MacArthur, envolvia um número incontável de filhos e filhas (Ap 7.9-10). Cada criança personificava a esperança de que pecadores pudessem ser redimidos por aquele que viria da semente da mulher. Paulo, mais tarde, dá um enorme valor à geração de filhos ao afirmar que a mulher seria salva dando à luz filhos. De Gênesis a Apocalipse observamos que o nascimento de um filho era sinônimo de bênção divina. Cada filho gerado era visto como dádiva divina, bênção do Senhor.

Não podemos negar a verdade divina sem que soframos as conseqüências disso. Quando um casal decide desviar-se do plano divino, fatalmente essa escolha pessoal e privada trará conseqüências devastadoras para as gerações seguintes (lembra que a verdade pessoal determina a verdade universal?). Como disse Steve Ham: "A humanidade nunca foi e nunca será capaz de ignorar a Palavra de Deus escrita sem maiores conseqüências geracionais".

Quer ver? Essa tendência é vista principalmente nas nações ricas. Casamento não é mais sinônimo de ter filhos. Mas qualquer amante da natureza e do bem-estar social deveria entender que menos bebês significa menos força de trabalho e maior longevidade de idosos. Para uma nação significa mais despesas médicas e altos custos previdenciários, o que pode trazer sérios riscos à economia de um país. Você entende por que os governos europeus fazem campanhas para convencer casais a ter mais filhos? São licenças-maternidade e paternidade enormes, são "bolsas" (dinheiro mesmo) para cada criança nascida numa família. No Brasil, essa tendência mostra-se cada vez mais real entre casais de poder aquisitivo alto (difícil de entender, pois estes deveriam ser os principais procriadores de crianças). Pensar no impacto que um bebê provoca nas contas domésticas é ter uma visão de curtíssimo prazo. Muito mais prejuízo esses casais trarão não somente em suas vidas, pois terão que carregar o ônus pela rejeição do seu papel natural, mas principalmente à geração que se seguirá a deles.

A procriação, portanto, faz parte do plano divino para o homem e deveria ser uma das principais razões para o casamento. Claro, excluo aqui aqueles que por motivos alheios à sua vontade não podem ter filhos. Como filhos de Deus precisamos ter certeza do que nos motiva, e ao considerar esse assunto devemos excluir toda atitude egoísta, que tem sido a principal causa para a escolha de não ter filhos. Aliás, a principal causa da queda de fecundidade deve-se à consolidação da mulher no mercado de trabalho. Intrigante, não é? Começou com uma primeira rejeição ao papel divino fundamental, aumentando o abismo para escolhas cada vez mais distantes do plano original de Deus para sua vida. O fim? Uma nação quebrada. Uau! Que poder tem mesmo uma mulher!

Mas esse mesmo poder pode ser construído inversamente. Se aceitarmos viver a vida que Deus nos deu dando valor ao papel singular executado dentro das quatro paredes do lar, emprestando o nosso corpo para que a vida nasça e cresça, experimentaremos outro tipo de sociedade: veremos uma nação forte, com jovens fortes e preparados para o trabalho,  civilizados e prontos para aceitarem o desafio de lutar pela vida que há de ser gerada pela união dos seus corpos e assim se seguirá o ciclo de crescimento.

Se de fato nos preocupamos com os rumos da humanidade, se queremos realmente "salvar" esse mundo, o desejo de ter uma "semente de piedosos" será a primeira convicção irresistível, fazendo-nos priorizar a família e o legado piedoso que dela virá. Essa será uma luta coerente e uma bandeira digna de ser hasteada. Somente quando você e eu aceitarmos a Palavra de Deus como verdade absoluta é que poderemos restabelecer gerações perdidas. O casamento e o que dele vem como fruto é a forma como Deus mostra ao mundo o mistério profundo da obra de Cristo. Há um custo pessoal para se seguir Jesus. Há um custo também quando casamos. Se somos casados devemos perguntar: "meu casamento é um palco da glória de Deus ou a negação de Sua vontade?"

Negar a paternidade nada mais é do que uma rebelião contra o plano original de Deus. O homem e a mulher distantes de Deus querem o prazer que o casamento lhes proporciona, mas não aceita as responsabilidades advindas dessa escolha. Nossos corpos preparam-se todos os meses para fecundar, para gerar filhos. E se estudarmos um pouco mais a natureza da mulher, veremos como carregar uma criança traz mais vida à sua vida. Conversei com minha obstetra sobre isso, e ela me disse que a principal causa de cânceres de ovário e útero deve-se à escolha deliberada por esterilidade em vez da concepção.

Que essa atitude mundana e carnal não seja aceita nos círculos cristãos! Não podemos nos conformar com o mundo e isso implica em aceitar com alegria os bebês como presentes de Deus e potenciais modeladores da cultura futura. Deus tem para nós plena alegria e satisfação e nunca apatia e depressão. Mas com Ele, toda verdadeira alegria é fruto de uma piedosa obediência. Aceitamos seus planos com todos os custos que isso envolve, e poderemos depois experimentar a verdadeira alegria. Quem quer usufruir do prazer sexual sem a responsabilidade da paternidade atrai para si mesmo a depressão e tristeza.

Atribuir à sociedade a culpa que sente pela rejeição do plano divino em sua vida é tentar tapar o sol com a peneira. É em vão. Não cumprir com a responsabilidade pessoal é uma escolha de cada um, mas as conseqüências também virão e poderão até ser compartilhadas, mas de uma forma distinta desta apontada pelos mundanos. A causa primária da depressão e solidão dos casais que optam por não ter filhos está no próprio egoísmo e poderá alastrar-se pela sociedade, se esses casais não o assumirem como mal inerente e não resolverem entre eles mesmos, mudando as escolhas pessoais. O mal que sobrevém a casais que optam por estas escolhas não é fruto da suposta sociedade preconceituosa, mas é fruto das suas próprias escolhas. Somos responsáveis pelas escolhas que fazemos à parte de Deus. "O seu crime o castigará e a sua rebelião o repreenderá. Compreenda e veja como é mau e amargo abandonar o Senhor, o seu Deus, e não ter temor de mim", diz o Soberano, o Senhor dos Exércitos" (Jeremias 2:17-19). "Reveja o seu procedimento e considere o que você tem feito" (Jeremias 2:23).

De nada adianta discursos sobre a preservação da natureza, economizar a água, reciclar o lixo, preservar as espécies em extinção e coisas parecidas, se não reconhecermos a partir de nós que o mundo precisa de mulheres fecundas e saudáveis, de casais dispostos a criar uma prole. Óvulos femininos envelhecem. Reprodução humana tem prazo de validade. Carreira e outras conquistam podem esperar, mas a saúde reprodutiva e o cuidado em criar os pequenos não esperam.

Se quisermos ser honestos e íntegros devemos, antes de tudo, preservar a nossa espécie e prole, gerando em tempo hábil e priorizando a boa formação nos anos de base, com a mente certa de que aqueles anos, apesar de serem ocultos para a maioria dos que nos cercam, serão os mais importantes não somente das nossas vidas, mas dos pequenos que crescerão rapidamente.

Façamos um bem à natureza. Homem: trabalhe duro para sustentar essa mamífera e tenha muita paciência ao lidar com ela, mas seja sempre firme e esteja sempre no controle. Mulher: aproveite a saúde que Deus lhe deu e tenha filhos! Não tenha medo de ser mulher. Tenha medo de ser homem vestida de mulher! Sua real identidade está lá no berço, no sorriso daquele rostinho, no choro incontrolável de uma criança, nas roupas sujas e abraços constantes. Um alerta: isso passa e rápido! Aproveite cada segundo e não substitua esses momentos por nada. Depois que passa desapercebido o que resta somente é sentar e chorar.


Aquela velha máxima continua sendo verdade: "as mãos que embalam o berço governam o mundo". Ajustemos a lógica e veremos a verdadeira revolução acontecer. De casa para o mundo.

(Adna S Barbosa)

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