"É inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual eles vêm! Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos..."
Não podemos impedir o avanço do mal no mundo, mas podemos impedir que o mal avance dentro e ao redor de nós. Há quem alegue ser a cultura, os amigos, os costumes tão fortes que nossos esforços para impedi-los são vãos. Prendem-se ao que "é inevitável" e esquecem do "ai". Jesus enfatiza a responsabilidade pessoal e não a coletividade. Você é o meio pelo qual o pecado pode passar ou parar. Você é o muro do seu lar. O escândalo sempre vem daquele que pode fazer converter ou desviar o simples de coração, o ingênuo. Em nossos lares, somos o termômetro, o muro de proteção, os limites que Deus usa para o bem e segurança dos nossos filhos. Quando permitimos que hábitos ou condutas pecaminosas façam parte de nós, tornamo-nos como um daqueles que fazem tropeçar os pequeninos, e ai de nós se agirmos assim! Nenhuma escusa, nenhum vilão, nenhuma transferência de responsabilidade pode aliviar a sentença. É tola a tentativa de bancar o esperto com Deus. Ele sabe exatamente o quanto de indolência há no nosso coração.
Jesus continua: "Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe...". Esse irmão pode ser o filho ou o marido. Pode ser o pai, a mãe ou o irmão. Agir como Cristo agiria, se fosse provocado, é evitar o escândalo. E quão difÃcil é tratar os nossos como o primeiro campo de treinamento do EspÃrito! Crianças que choram, que brigam, que desobedecem. Crianças tão carregadas de pecados quanto nós! A falsa ilusão da infância perfeita tem nos atingido, para o nosso próprio mal. Sim, esperamos que elas sejam criaturas angélicas e quando não são, também não as perdoamos. "Por que eles não são como o filho de fulano?", pensamos. E então agimos com rigor, esquecendo-nos de que eles são tão carentes da graça quanto nós.
Dia desses eu estava estudando com meu filho para prova que faria no dia seguinte. Depois de ensinar-lhe umas cinco vezes a mesma página, e depois de perguntar as mesmas perguntas por diversas vezes, perdi a paciência. Eu já havia tentado outras estratégias, mas nada resolveu. Então, senti-me no direito de não ouvir seu pedido de ajuda. Aumentei a exigência e ele passou a me temer cada vez mais. Ele esforçava-se para responder, mas o medo só aumentava e atrapalhava todo processo. Eu sei exatamente das suas capacidades e limitações. Sei o quão difÃcil é pra ele concentrar-se em assuntos abstratos, mas não pesei isso no meu julgamento.
Por fim, já cansada de tudo aquilo, perdi a esperança e mais uma vez esqueci da misericórdia. Naquele momento, em desespero, fechei meus olhos e comecei a orar. Pedi para que Deus abrisse o entendimento dele, para o meu próprio bem e conforto, e controle da situação. Ah, como é bom orar nos momentos de desespero! Deus, que é Pai, falou comigo e me disse: "você sabe quem e como é seu filho. Conhece suas limitações e sabe que é apenas uma criança que precisa desesperadamente de você. Você não tem misericórdia dele e esquece de quantas vezes eu tive paciência com você, de quantas vezes você deu cabeçadas naquilo que sabia ser errado. E olhe que você não é ingênua, nem é uma criança que precisa de direção. Você me conhece e mesmo assim, muitas vezes, Eu espero que aprenda, sem exigências, sem brigas. Por que não mostrar misericórdia por esta criança, que sequer sabe discernir o que é errado e o que é certo?"
Naquele momento senti-me como se fosse o profeta Jonas. Chorei ali, na frente dele, e ele, tão lindo e ingênuo, olhou para mim sem entender. Consigo até ver seus olhos lindos e negros a olhar para mim com compaixão. Ele me diz: "Chora não, mamãe. Eu prometo que vou aprender", quase suplicando. Eu o abracei e pedi perdão. Eu, que não havia tido compaixão, agora rogava por perdão. Todas aquelas tentativas e pedidos de nova chance para acertar, agora voltara-se para mim, e eu vi o quanto precisava da misericórdia que havia negado. Isso é tão difÃcil que os discÃpulos disseram: "Senhor, aumenta nossa fé!". E eu, tal como aqueles homens, roguei: "Senhor, aumenta minha fé para que veja além de uma criança que não aprende. Me ajuda a ver uma criança que foi posta por Ti para que exerça o amor e compaixão. Dá-me fé para plantar árvores que não vejo e forjar o caráter que não consigo alcançar. Ajuda-me a ver a pessoa da qual um dia precisarei de sua paciência para comigo. Faz-me entender que a colheita será grandiosa, se eu esperar e confiar que Tu darás o crescimento a esta pequena semente".
Eu entendi que é esta a pequena semente de fé, como grão de mostarda, que é semeada na infância daqueles pequeninos. Tão pequena que custa-nos crer que um dia poderá nos servir de grande benção, removendo os obstáculos do nosso caminho. E ali, naquele lugar, uma nova mãe nasceu em mim. Uma mãe consciente da pequenez e da fragilidade, consciente da dependência do Pai de amor e do perdão do Deus que é "compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado” (Êxodo 34:6-7).
Vez por outra, essa fé parece fraquejar, e às vezes me vejo afundando no mar da confiança própria. Então, ergo meus olhos para os olhos meigos de Jesus, e vejo suas mãos estendidas, prontas para me levantar. E mais uma vez me sinto perdoada e compreendida por Aquele que me fez e me ama, que conhece minha estrutura e lembra-se de que sou pó. E é nesse momento que entendo os "ais": ai de mim se não for canal desse amor divino àqueles pequeninos que Deus me deu! Ai de mim se eu negar o conhecimento deste Deus aos que precisam conhecer-Lo, para assim poderem enfrentar o mundo de inevitáveis escândalos.
"Ai de mim, Senhor, se não anunciar o teu Evangelho de amor e perdão aos teus pequeninos. Ajuda-me, Senhor, a cumprir essa missão com amor e temor. Amém".
“Disse Jesus a seus discÃpulos: É inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual eles vêm! Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos. Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe. Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé. Respondeu-lhes o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá.”
Lucas 17:1-6 .."
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Adna Barbosa