Há mentira boa?
16:15:00
Há quem diga que mentir por uma "boa causa" não faz mal. O que dizer disto?
Você pode perguntar: Em 1 João 2:21 diz que “...nenhuma mentira vem da verdade”. Se nenhuma mentira procede da verdade como explicar os casos na Bíblia em que personagens mentem e não são punidos.
m uma cosmovisão bíblica, toda verdade é a verdade de Deus! Existe um Deus e uma realidade - criados e cumprindo o Seu desígnio. A verdade é abrangente e integrativa, um campo unificado de conhecimento. A verdade está integrada; nenhuma dicotomia existe .
Aqui precisamos ser bem cuidadosos. Vamos primeiro citar um exemplo disso usando a própria Bíblia: A Bíblia proíbe a mentira, mas os espiões de Israel foram poupados por Raabe ao mentir sobre o esconderijo deles para os soldados que estão investigando. (Veja Josué 2.)
Aqui temos um claro exemplo de mentir por uma boa causa.
Para falarmos disso, precisamos primeiro relembrar os 10 mandamentos, as leis de Deus. Nelas estão as respostas para os nossos dilemas morais. É lá que sabemos que a mentira é pecado, que o roubo, o adultério e a cobição são pecados. Então vamos começar por eles.
Dos 10 mandamentos, qual é o maior mandamento?
A resposta está em Marcos 12:28-31
Aproximou-se dele um dos escribas que os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
Acima de todas as leis, está a lei do amor, que começa pelo amor a Deus sobre tudo. Esse Deus exige de nós atitudes amorosas, como Ele mesmo é amor. Por isso, amar ao próximo é a segunda maior lei. Partindo desse pressuposto, devemos aplicá-lo em cada ação de nossas vidas.
Vamos então à questão da “boa mentira”.
Eu fiz uma pesquisa e achei no livro do Josh MacDowell uma explicação muita clara sobre isso e eu vou repassar para os irmãos.
O povo de Deus na Bíblia enfrentou freqüentemente dilemas éticos, nos quais a escolha amorosa era de difícil discernimento. Por exemplo:
- Deus ordena obediência ao Faraó do Egito, mas este manda que as crianças inocentes dos israelitas sejam mortas. Como as parteiras decidiram o que fazer? (Veja Êxodo 1.)
- A Bíblia proíbe a mentira, mas os espiões de Israel serão mortos se Raabe revelar o esconderijo deles para os soldados que estão investigando. O que ela deve fazer? (Veja Josué 2.)
- A rainha dá ordens para que todos os profetas de Deus sejam mortos. Mas Obadias desobedece e esconde cem deles. Obadias está agindo com amor? (Veja 1 Reis 18.)
Agora vejamos situações mais próximas a nós:
- Como adolescente cristão, seus pais o proíbem de servir a Deus ou de falar com outros cristãos?
- Sua mulher sofre complicações graves no parto e está quase morrendo, você tem de escolher entre salvar a vida dela ou a de seu filho?
- Uma colega de trabalho o faz jurar segredo e depois confessa que está roubando dinheiro da empresa?
- Um indivíduo enlouquecido pelas drogas entra no restaurante onde você se encontra com seus pais, mulher e filhos e começa a atirar selvagemente, e você pode matá-lo ou atirar-se na linha de fogo para salvar outros?
São situações que podem atingir a todos nós. Como devemos fazer? Mentir é permitido?
Voltemos aos mandamentos. O princípio universal acima de todos os deveres morais é “Amar a Deus e ao próximo”. Em cada situação dessa é preciso passar pela peneira do Amor e então julgar o que fazer.
Ás vezes pensamos que os mandamentos são todos equivalentes. Mas não são. O amor a Deus é o "grande e primeiro mandamento" (Mat. 22:38). O segundo mandamento, amor pelo próximo, é semelhante ao primeiro, mas não equivalente a ele (v. 39). Há ocasiões em que o amor a Deus entra em conflito com o amor pelas pessoas e, nesses casos, o amor por Deus deve vir em primeiro lugar. Se e quando Deus provê milagrosamente um meio de acomodar ambos, devemos ser gratos. Mas a história revela que Deus nem sempre responde desta forma. O povo de Deus teve de escolher muitas vezes entre obedecer a Ele ou às pessoas – e Deus honrou essas escolhas. Da mesma forma acontece conosco. Quando priorizamos a obediência a Ele e o amor ao próximo, estaremos cumprindo a lei maior, a lei de Deus.
Numa situação em que a lei entra em conflito, não devemos escolher o mal menor. Podemos ver, como cristãos, a questão pelas lentes da verdade absoluta de Deus. A verdade de Deus me ensina que há sempre um bem maior, há sempre um bem positivo possível em cada escolha moral, e escolher o bem maior transcende qualquer obrigação de fazer o bem menor.
Vejam, a questão não é negativa, não se trata de escolher o menos ruim. A questão é: qual é a atitude mais amorosa nessa situação específica? Vendo por este lado, descobriremos que a pessoa só é culpada se a sua atitude for evitável. Não há incoerência em Deus. Se usarmos como critério o amor de Deus em cada atitude nossa, estaremos em sintonia com Sua lei. Há sempre um bem positivo possível em cada escolha moral, e escolher o bem maior transcende qualquer obrigação de fazer o bem menor.
“Não existe exceção para os mandamentos absolutos, mas existem algumas isenções em vista das prioridades superiores do amor. Há sempre um bem maior”.
Vejamos alguns exemplos de hierarquias entre a escolha melhor:
O fato de haver bens maiores e menores está claro na Escritura. Jesus falou dos "preceitos mais importantes da lei" (Mat. 23:23). A justiça e a misericórdia pesam mais na balança de Deus do que a contribuição, embora a lei exigisse ambas as coisas (Mat. 23:23). Ajudar alguém necessitado, tal como a tarefa de alimentar os famintos ou curar os doentes, era mais importante para Jesus do que guardar o sábado (Mat. 12:1-5).
Os dois grandes mandamentos de Jesus revelam bens maiores e menores. O amor a Deus é um bem maior do que o amor pelas pessoas (Mat. 10:37). O seu amor por Deus pode levá-lo a desobedecer ao governo se este ordenar que você cometa pecado, mas o amor pelo seu país nunca deve levá-lo a desobedecer a Deus em nenhuma circunstância. O amor pela família é um bem maior do que o amor pelos estrangeiros (1 Tim. 5:8). Ajudar os crentes é um bem maior do que prover para os incrédulos (Gál. 6:10).
Agora é bom destacar que a ética cristã é determinada pelas regras reveladas e não pelos resultados esperados. Não é porque eu almejo um determinado fim “nobre” que eu devo deixar de fazer o que é verdadeiro. Em muitos círculos, é comum determinar o que está eticamente certo, avaliando o que trará o bem maior para o maior número de pessoas a longo prazo. (Exemplo Shopping)
Contar uma mentirá para salvar uma vida humana é uma atitude amorosa? É certo mentir para proteger pessoas inocentes ou indefesas? Você deixa sua filha adolescente sozinha em casa certa noite, dando-lhe a seguinte instrução: "Se alguém desconhecido telefonar, não diga que saímos. Diga apenas: 'Meus pais estão ocupados no momento. Quer que telefonem depois?"'. É errado mandar que sua filha engane os outros propositadamente na esperança de protegê-la de algum malvado que talvez esteja à procura de garotas sozinhas em casa?
A resposta depende de como definimos o termo mentira. Estamos moralmente obrigados a falar e agir com veracidade em todas as circunstâncias? O nono mandamento declara: "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo" (Êxo. 20:16). Provérbios 14.25 diz: "A testemunha verdadeira livra almas, mas o que se desboca em mentiras é enganador". Ananias e Safira foram mortos imediatamente por mentirem ao Espírito Santo (At 5). Mas Raabe mentiu aos soldados que procuravam os espiões de Israel (Jos. 2).
As parteiras hebréias mentiram ao rei, afirmando que não podiam matar as crianças israelitas porque, antes mesmo que se aproximassem dos bebês, ele já haviam sido escondidos (Êxo. 1). Se mentir é errado, por que essas pessoas não foram castigadas pelas suas transgressões?
Considere as parteiras hebréias. As Escrituras nos informam que, por terem protegido vidas inocentes, "Deus fez bem às parteiras; e o povo aumentou e se tornou muito forte. E porque as parteiras temeram a Deus, ele lhes constituiu família" (Êxo. 1:20,21). É difícil acreditar que a mentira delas não fosse parte do amor que sentiam pelas crianças recém-nascidas e por Deus. Elas também preferiram o bem maior, mesmo que a mentira em si seja sempre pecaminosa.
Certamente, o direito de o inocente viver tem prioridade sobre o direito de o culpado receber a informação certa.
Mentir é sempre errado e nunca justificável ou certo por si mesmo. Estamos isentos da obediência à lei contra a mentira só quando essa lei é superada por uma obrigação maior. Quando dizer a verdade põe em risco vidas inocentes, o bem maior é preservar essas vidas. É importante notar que mentir neste contexto não é uma exceção à lei, mas simplesmente uma isenção temporária baseada na prioridade bíblica de um bem maior.
O princípio de valor envolvido é este: As pessoas inocentes são mais dignas de respeito amoroso do que as que promovem atitudes não- amorosas. Quando não há meios de respeitar ambas, as vidas inocentes devem ter precedência sobre a informação que daria vantagem aos que iriam ferir ou matar injustamente.
A ética suprema de Deus é a ética do amor
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