Alguns são chamados para descer ao poço; outros, para segurar as cordas

17:03:00






Ao longo dos meus dias, projetos nascem, trabalhos vêm às minhas mãos. Necessidades surgem e eu sinto que é meu dever contribuir para o bem de alguém que também cuida do bem de outros. E isso tem me dado muita satisfação.

Aprendi a tocar flauta e quase fui estudar no exterior. Porém, eu era muito nova e meu pai preferiu me proteger a me lançar no mundo. Aprendi a usar ferramentas de apoio a palestras, porque não fiquei satisfeita em ver um grande amigo e conselheiro pagar caro pra fazer o que eu poderia fazer de graça. Depois, casei e aprendi a fazer algumas pequenas coisas pra ajudar meu marido nos seus empreendimentos. Não me contentava vê-lo pagar caro por um trabalho que eu também poderia aprender e fazer de graça pra ele. Aprendi a filmar, editar, fotografar, fiz até site! 


 Ao longo desse tempo, pessoas vêm e vão. E surgem aquelas que perguntam: "Qual é seu site?" "Me dá um cartão?" "Faz um curso online!" Ah... se ganhar dinheiro fosse tão importante pra mim... Talvez nunca tivesse aprendido o que aprendi. Foi a vida e as necessidades dos outros que me inspiraram. Foi o contentamento de poder ajudar que me deu energia. É inexplicável. É como se fosse um combustível que queima dentro de mim!

Fiz um curso de radialismo e TV e me identifiquei muito com o curso. Escolheram-me para ser a oradora da turma. Depois de me ouvir, um dono de uma emissora que lá estava me convidou e disse que eu o procurasse naquela semana. Possivelmente ele me contrataria para trabalhar em sua emissora. Mas eu não fui. Meu pai me disse: "agora não, Naná!" (ele me chama assim). Alguém pode dizer: "Você é louca? Perdendo oportunidade de ficar famosa e ter uma carreira brilhante, fazendo o que ama?" Não, eu não sou louca. Eu apenas me sinto muito feliz aqui, no meu cantinho, ouvindo a voz dos que Deus colocou sobre mim. Não nasci com grandes ambições. Não sofro do mal da maioria das pessoas. Comecei a escrever neste blog e não assinava o texto, porque meu intento era apenas compartilhar aquilo que recebera de outros, e de Deus. Começaram a reclamar do anonimato e eu assinei. Pessoas se aproximaram de mim apenas por interesse. Depois, partiram sem deixar marcas... outros me julgaram e apontaram o dedo, tentaram me converter aos seus projetos, mas não me rendi. E eu continuei.

Nem tudo são flores neste percurso. Eu chorei, me decepcionei. Pensei em desistir, me senti fraca demais. Mas Deus sempre me ajudou a terminar o que começava. Ele, ao longo do caminho, foi me dando sinais da sua aprovação. Uma delas me comoveu e me fez sentir ainda mais a necessidade de continuar assim.

Quando adolescente, tinha uma enorme vontade de aprender o inglês. Mas numa família com oito pessoas e somente um provedor era difícil fazer um curso dessa natureza. Foi quando, num jornal de domingo, eu li que poderia fazer um curso de inglês gratuito, se fosse uma das primeiras a chegar lá. Recortei a publicação e insisti com meu pai para ir. Chegando lá, me levaram para a sala de aula. Subi uma escada em espiral, radiante de alegria! Quando terminou, a moça da recepção nos chamou e perguntou se meu pai iria me matricular. Ele disse que sim e ela mostrou a conta. Meu pai disse: "Não posso pagar. Não era gratuito?" - "Não!" disse ela. - "A primeira aula foi gratuita, mas as outras precisam ser pagas". Meu pai olhou para mim e disse: "Filha, não posso pagar". Eu aceitei, triste, e na saída até bati com minha cabeça na porta de vidro transparente. Mas não reclamei. Vinte anos depois, recebo de presente um curso inteiro de inglês. Quando estou subindo para a sala de aula, lembrei daquela escada em espiral. Lembrei daquele dia em que eu subia feliz, crendo que começaria a realizar um sonho. E não era mesmo que aquele lugar era a antiga escola de inglês?! E lá, naquele lugar, eu agradeci. Deus se agradara de mim! Ele não me esquecera! Ele olhava meus passos, meu coração. Ele viu quando, no silêncio do meu quarto, eu orei. Viu minha dor e meu desejo. Viu tudo e eu nem entendia. Naquele dia, tudo fez sentido pra mim. Tudo ficou claro como o sol.

E agora, continuo à espera da próxima tarefa. Desisti de planejar, de estabelecer metas de crescimento pessoal. Eu descobri que meu crescimento pessoal está no crescimento de outro, talvez no crescimento daquele que sabe fazer outros crescerem. Enquanto eu faço para outros, Deus faz por mim. Essa matemática não falha nunca!

Quando adolescente, eu li num livro que se todos quisessem ser o primeiro violino, como teríamos uma orquestra? Que a beleza era a harmonia, não o prestígio do lugar. Eu guardei aquilo lá no meu interior. E sabe, é tão bom ser segundo violino!

Eu não sei ser famosa, nem sei ganhar dinheiro. Não sei me projetar, nem tão pouco tenho ambições. Satisfaço-me em ser a segunda, o auxílio, o socorro. Sinto-me bem assim. E a cada novo trabalho, eu me ajoelho e oro, peço para que as mãos de Deus conduzam a bom termo aquele projeto, para a glória do nome dEle.

No alto dos meus 35 anos, sinto que devo permanecer assim. Sinto que a carreira não acabou e que outros ainda precisarão de mim para completar seus trabalhos. Meu pedido a Deus é que Ele me ajude e me dê forças para ser um instrumento dEle na vida de outros. Do seu modo, do seu jeito.



Alguns são chamados para a linha de frente da batalha, outros, para a retaguarda. Alguns são escolhidos para plantar, outros, para colher, ainda outros, para saborear as frutas. Alguns são chamados para descer ao poço, outros, para segurar as cordas.


Você sabe qual é o seu chamado? Eu já sei qual é o meu.



Adna S Barbosa

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4 comentários

  1. Que experiência edificante. Sempre me senti assim também. Sinto-Me uma pessoa com muitas habilidades e sinto-me enormemente satisfeita quando posso ajudar alguém mas, não sei "cobrar" não sei lucrar com meu trabalho e tenho a tendência a oferecer uma ajuda ao invés de prestar um serviço. Fui bastante criticada por isso mas, já não sou tanto mais porque os mais próximos já concluíram que eu sou mesmo "boba" de não "aproveitar" minhas habilidades.Principalmente de 3 anos pra cá, depois que fui mãe, tenho tido imenso prazer em me doar, deixei meu trabalho na área de minha formação pra me dedicar a educação da minha filhá e não pretendo deixar isso de lado porque acredito firmemente que o Senhor me chamou pra isso e, não me importa se às vezes tenhamos alguma privação de conforto porque, apesar de ter nascido em larga cristão, só recentemente, fui alcançada pela graça e aprendi que é o Senhor quem cuida de nós e nos dá o sustento. É BOM DEMAIS SABER QUE EXISTEM OUTROS CHAMADOS PRA OS BASTIDORES.

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    1. Pois é! Num mundo onde todos desejam ocupar o primeiro lugar, Jesus nos chama para sermos servos. Um pouco mais de Evangelho mudaria muita coisa nesse mundo.

      Continue assim. Conheço muitas que, como você, estão abrindo mão dos holofotes para executar o trabalho secreto, mas que é fundamental para o sucesso de um empreendimento maior do que elas.

      Deus te abençoe!

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  2. Irmã Adna, que mensagem tão linda!!! Me identifiquei! Deus continue te abençoando e te usando minha irmã! Te admiro muito! Beijo! Forte abraço!

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