Coragem para fazer o que é comum
13:25:00
Leia o texto ouvindo a canção abaixo:
Num encontro com algumas amigas, uma conversa sobre planos futuros surgiu. Uma disse: "Estou estudando para buscar o mais alto grau na minha profissão". Ela realmente estava dando altos vôos na sua carreira e todas a elogiaram, inclusive eu. Outra disse: "Estou concluindo essa etapa e depois vou me submeter a testes difíceis para conquistar sucesso nessa área", e todas aplaudiram seus esforços, inclusive eu. Uma a uma contou sobre os planos e todas pareciam ir muito bem nos seus grandes feitos. Eu fiquei ali, só ouvindo e esperando a minha vez. Eu pensei: "qual é o meu grande plano para o futuro?". Após todos os comentários elogiosos que jogavam combustível no avião dos sonhos de cada amiga, elas viraram-se para mim e, como eu esperava, perguntaram-me: "E você? Está estudando ou planejando retomar seus estudos?".
Como eu já esperava e até já havia ensaiado caladinha as palavras que falaria, falei algo que talvez tenha jogado uma água fria no tanque dos planos do sucesso delas. Eu disse: "Não, meu planejamento é ficar em casa por um tempo que não posso calcular, pois pretendo educar meus filhos em casa. Também tenho desejo de ter mais filhos, se esta for a vontade do Senhor". Elas murcharam os olhos frustradas e o comentário foi mais ou menos assim: "Como? Os meninos cresceram, estão todos na escola, você não deveria buscar satisfazer seus planos de sucesso na carreira que um dia começou?".
Deus me deu graça naquele momento. Confesso que enquanto elas falavam sobre suas conquistas, eu fiquei tentada a olhar para o presente e, de alguma forma, me encaixar neste discurso de "satisfação pessoal". Mas não durou muito. O doce e meigo Jesus, através do Espírito Santo que habita em mim, encheu o meu coração de paz enquanto eu reafirmava com convicção que os planos dEle eram melhores do que os meus e que havia pleno gozo e sucesso em fazer coisas pequenas e comuns neste mundo.
Na verdade, eu já estive bem perto de lidar com coisas bem grandes e empolgantes na minha vida, mas situações que estavam fora do meu controle impediram-me de continuar. Já "perdi uma oportunidade" de estudar música no exterior com tudo pago para mim. Eu era bem jovem, tinha 15 anos. Eu não fui, tive que dizer não. Meu sentimento, antes de saber que não iria, era de que um amplo horizonte de oportunidades abrira-se para mim. Foi quando eu fui "forçada" a dizer não. Para minha surpresa, fiquei em paz e... feliz! Que coisa! Como? Não sei, eu só sei que eu me senti assim e segui com a vida.
Pouco tempo depois, quando já estava perto dos meus 20 anos, recebi um grande convite para começar a trabalhar, na verdade era um estágio, numa grande empresa. Novamente uma situação surgiu e tive que dizer não. Pensei que ia chorar, mas não. Segui a vida e eis que surge, após o casamento e nascimento de dois filhos, outra boa oportunidade de crescimento profissional. Eu, que já estava em casa há um bom tempo, me vi na possibilidade de dar continuidade a uma "carreira" pessoal. Porém, mais uma vez, esse não era o plano de Deus. Disse não e continuei. Uma paz me inundou e cada vez mais entendia que o meu chamado, pelo menos por aquele momento, era voltar-me ao reduto do meu lar. Fiz isso crendo que ali seria o melhor lugar do mundo. Foi pela fé.
Sabe, a fé, seguida da obediência, gera sempre alegria. É algo que não posso explicar porque só entende quem já experimentou dar passos em lugares aparentemente desconhecidos e ignorados pelo senso comum. Depois disso tudo, tive minha terceira filha e nesse mesmo tempo tive que me dedicar ao meu filho, acompanhando-o de perto. Eu aproveitei a situação para buscar entender a vontade de Deus naquela vida reclusa, de dedicação a crianças que não poderiam me dar salários ou um nome famoso. Na verdade, elas tomariam de mim o meu tempo, forças, saúde.
Durante esse tempo, Deus tem trabalhado em mim e até despertado dons adormecidos que não conheceria se não estivesse ali, naquele lugar aparentemente comum, sem glamour algum. Deus trabalhou em mim de tal forma, que me fez desejar cada vez menos o sucesso do mundo e em troca disso, colocou em mim o desejo de estar permanentemente ali, no lugar oculto, no ventre do universo, formando seres com almas eternas.
Da janela da minha casa, vejo um mundo imenso para ser conquistado, não para mim, mas para Deus. Todas as propostas que recebi eram para fazer trabalhos relevantes que talvez arrastariam muitos para Deus. Mas Deus não quis isso de mim. Ele me chamou para sentar e abrir livros para crianças, ensinar a ler e a escrever, apartar brigas e lidar com fraldas sujas. Eu sei, são coisas pequenas e que parecem insignificantes demais para ser preciosas para o Reino de Deus.
Talvez você esteja, como eu estava, passando por momentos nos quais grandes horizontes parecem afunilarem-se diante dos seus olhos, e você nada pode fazer. Você tem convicção de que o certo a fazer é aquilo que menos atrai e mais suga as suas forças e energia. Você pode ter pensando em algum momento: "Aquele outro trabalho me dará a oportunidade de ganhar muitos para Deus, então, deixarei essas pequenas coisas para depois, afinal, elas se acomodarão de algum jeito". Porém, lá no íntimo, você sabe que a coisa certa a fazer é adiar os planos grandiosos para viver os planos pequenos. Você tem talento, eu sei, tem formação e é inteligente, mas Deus colocou em suas mãos algo inusitado, pequeno e simples. Os outros dizem que você está desperdiçando seu talento, mas você sabe que os maiores desafios não são as conquistas públicas - todos gostam disso -, mas as escolhas diárias, que permanecem ocultas para o grande povo. Na verdade, só um pequeno público vai lhe aplaudir e dizer que você é demais.
Essas coisas sem sentido e rotineiras são o trabalho que Deus preparou para você hoje e que será imprescindível para o trabalho que Ele reservou para você no futuro. Cuidar dos filhos, dos pais idosos, ajudar os enfermos, fazer serviços domésticos ou mesmo dedicar-se ao cultivo de hábitos como leitura ou orações diárias, desenvolver a disciplina de acordar cedo ou evitar os vícios das redes sociais e tecnologias podem ser coisas ordinárias demais na lista dos grandes feitos, repetitivas e tediosas, mas são elas que constituem a verdadeira vida. Como disse os Harris no livro Radicalize: "Você não encontrará nenhuma [dessas coisas pequenas] nas manchetes do jornal (“Garoto do bairro limpa o quarto e faz o trabalho de casa") nem acordará ansioso por elas ("Que coisa boa! Hoje vou fazer todas as tarefas que minha mãe mandar com a maior alegria!"). [...] A verdade é que grandes dádivas costumam estar escondidas nesses pequenos pacotes".
E aqui eu quero adaptar o que os Harris apontaram como as cinco principais razões por que as pequenas coisas são tão difíceis. São elas:
1. Elas não costumam acabar depois que você as completa.
As mulheres são as que mais entendem disso. Sempre temos algo a fazer que já fizemos antes e que sabemos que precisará ser feito hoje, amanhã e depois, e depois novamente. Há sempre uma pia de pratos para lavar, um cesto de roupa para lavar e passar, uma casa para limpar, banhos para dar e tomar, ensinamentos para repetir, tentações para resistir. Tem sempre alguma coisa a mais. Não há como não perguntar, nem que seja só em pensamento: "Será que um dia tudo isso acaba?
2. Elas não parecem muito importantes.
Cuidar da higiene do bebê não parece ser tão importante quanto dedicar-se a um grande trabalho na empresa ou igreja. Criar os próprios filhos não parece ser tão ou mais importante do que ministrar para muitas outras crianças no Japão, na África ou na escola. Você pensa que poderia estar ganhando muitas crianças para Jesus em alguma outra atividade e ficar em casa de alguma forma atrapalha a realização desse grande trabalho.
3. Elas não parecem muito relevantes.
"Será que daqui a dez anos esse trabalho fará alguma diferença na minha vida de conquistas? Limpar a pia e o vaso sanitário vai mesmo contribuir para o meu currículo? Ler a Bíblia e ir sempre ao culto de ensinamento vai mesmo me tornar uma crente melhor?"
4. Elas não são muito glamorosas.
"Não há vantagem alguma em ser uma esposa submissa, ou uma excelente dona de casa. Ninguém vai reconhecer mesmo". Ou: "tenho que limpar mais uma vez esse quarto. Que chatice!".
5. Ninguém presta atenção.
“Todo mundo fica impressionado porque ela está arrecadando dinheiro para ajudar os pacientes de câncer. Ninguém se importa que eu esteja tomando conta de minha avó e estudando para o vestibular ao mesmo tempo."
As mulheres são as que mais entendem disso. Sempre temos algo a fazer que já fizemos antes e que sabemos que precisará ser feito hoje, amanhã e depois, e depois novamente. Há sempre uma pia de pratos para lavar, um cesto de roupa para lavar e passar, uma casa para limpar, banhos para dar e tomar, ensinamentos para repetir, tentações para resistir. Tem sempre alguma coisa a mais. Não há como não perguntar, nem que seja só em pensamento: "Será que um dia tudo isso acaba?
2. Elas não parecem muito importantes.
Cuidar da higiene do bebê não parece ser tão importante quanto dedicar-se a um grande trabalho na empresa ou igreja. Criar os próprios filhos não parece ser tão ou mais importante do que ministrar para muitas outras crianças no Japão, na África ou na escola. Você pensa que poderia estar ganhando muitas crianças para Jesus em alguma outra atividade e ficar em casa de alguma forma atrapalha a realização desse grande trabalho.
3. Elas não parecem muito relevantes.
"Será que daqui a dez anos esse trabalho fará alguma diferença na minha vida de conquistas? Limpar a pia e o vaso sanitário vai mesmo contribuir para o meu currículo? Ler a Bíblia e ir sempre ao culto de ensinamento vai mesmo me tornar uma crente melhor?"
4. Elas não são muito glamorosas.
"Não há vantagem alguma em ser uma esposa submissa, ou uma excelente dona de casa. Ninguém vai reconhecer mesmo". Ou: "tenho que limpar mais uma vez esse quarto. Que chatice!".
5. Ninguém presta atenção.
“Todo mundo fica impressionado porque ela está arrecadando dinheiro para ajudar os pacientes de câncer. Ninguém se importa que eu esteja tomando conta de minha avó e estudando para o vestibular ao mesmo tempo."
Não, não é fácil ser comum, nem fazer coisas pequenas, mas Deus tem um plano por trás de cada atividade dessa. Ele quer nos moldar, tratar o nosso coração no deserto do nosso lar. Ele quer ter uma conversa íntima no dia a dia do cuidado com as nossas próprias ovelhas, assim como Ele teve com Moisés quando cuidava do rebanho do seu sogro nos confins do deserto, perto de Horebe (Êxodo 3).
Moisés, precisamente aos 40 anos, achava que faria grandes coisas pelo seu povo e tentou antecipar as coisas matando o egípcio que maltratara um israelita. Na mente dele, o tempo havia chegado e seus irmãos perceberiam o grande homem que ele era. No entanto, ele teve que fugir para o deserto quando descobriu que a sua "heróica" atitude não fora nada menos do que um esforço egoísta perante seus irmãos. Lá no deserto, ele aprendeu o que era a quietude, o trabalho insignificante, rotineiro e tedioso. Aquele Moisés, que aprendera a sabedoria dos egípcios e que outrora fora um homem poderoso nas palavras e obras, aprendeu a esperar e até mesmo a desconfiar dos seus méritos. Foi no deserto que ele descobriu que não era grande coisa. Foi no cuidado com as sujeiras dos bois e ovelhas, foi no sol causticante e em meio à poeira do deserto que ele experimentou o difícil e verdadeiro trabalho. Ser príncipe no Egito era fácil, difícil era ser um pastor no deserto (Leia Atos 7:22-43).
Percebe a lógica das coisas? Agora os seus olhos estão se abrindo para os propósitos de Deus? Não, Deus não precisa de grandes homens ou mulheres poderosas, cheias de graus e com um vasto currículo. Nada disso é ruim, mas pode se tornar um laço quando toma nossa mente e ofusca o trabalho que Deus preparou para nós. O que Deus colocou em suas mãos para fazer hoje? Ele te deu um marido, um lar, filhos? Ele te deu pais idosos para cuidar, um quarto para arrumar? Ele te deu uma pia e um banheiro para deixar perfumados e limpos? Pois será nessas atividades que Deus mostrará a sarça ardendo. As experiências com Ele surgirão nos momentos aparentemente mais ordinários de sua vida. Você está pronta para isso?
É preciso muita coragem para ser comum, discreto, normal. Só depois dessa escolha de fé pela vida comum é que você estará pronta para realizar grandes coisas para Deus. Só depois do deserto foi que Deus tomou Moisés e o levou para cumprir Seus propósitos eternos, foi depois que ele aprendeu a não confiar na sua própria capacidade de fazer as coisas que Deus o tornou príncipe entre seus irmãos.
Sabe, depois da última oportunidade que tive de alavancar uma carreira profissional, eu engravidei da minha filha caçula e Deus me conduziu ainda mais para dentro do meu lar. Ele me levou a entender o meu chamado, o grande chamado de criar filhos para Ele. Comecei com a caçula, depois veio o filho do meio, depois a mais velha - todos hoje desfrutam dos frutos do meu trabalho doméstico. Não sou apenas a mãe que gerou, mas também a professora, a cuidadora, a conselheira, a secretária, a passadeira, a lavadeira, a governanta, a fiscal... Sou também a profeta, a rainha, o instrumento poderoso de Deus. Eu sinto que sou agraciada por Ele por me confiar tamanho trabalho. Eu não me vejo mais em outro lugar, o deserto hoje me parece seguro. Talvez Deus sacuda a minha vida, me chamando para uma missão radical como fez com Moisés. Ele gosta de nos tirar da zona de conforto. Quando Moisés aprendeu a silenciar, Deus o chama para falar. Ele - cadê aquele Moisés? - diz: "eu não sei falar"!
Deus ama fazer essas coisas. E Ele vai fazer com você assim, se de todo coração entender a Sua vontade. Eu ainda estou no processo de aprender a esperar. Não sei mais por quanto tempo, mas sei que a vontade dEle é muito, muito boa.
Não muito tempo atrás, eu fiz planos de dar continuidade aos meus estudos, voltar a fazer alguma coisa no mundo. Eu pensei que estava no tempo, mas, já experiente, fui orar. Enquanto orava, também agia. Comprei livros, pesquisei datas para ingresso, fui atrás. Eis que de repente - como Deus é maravilhoso! - as coisas mudaram e aquilo que parecia ser meu era, de fato, do meu esposo. Foi tudo tão claro, tão certo, que só tive que agradecer. Voltei ao meu lugar e estou aqui.
Tudo isso eu escrevi enquanto pensava na bondade do Senhor. Ele tem Seus propósitos eternos e hoje minha maior e melhor missão está bem debaixo dos meus olhos. Não, não está além. Não está na África, nem nos EUA, nem no Brasil. Minha missão está num pequeno bairro cheio de ruas de uma cidade populosa. Numa dessas ruas está minha casa, o grande lugar que Deus me deu para evangelizar e fazer grandes coisas para Ele.
O Reino de Deus é assim: as coisas são sem lógica aos nossos olhos; o menor é o maior, felizes são os que choram, os humildes são os exaltados, os loucos são os sábios, os que não são são os que são! É neste Reino que estou. E hoje eu oro: "Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo. Sim, tira a primeira mulher, aquela que se deleita em sacrifícios e ofertas exuberantes, e cria em mim um coração puro e humilde para entender e fazer a Tua vontade".
Quero ser a segunda mulher como Moisés foi depois do deserto. 40 anos foi o marco da sua autossuficiência; os outros 40, o marco da humildade e dependência. O primeiro homem se corrompeu pelo engano do pecado; o segundo homem renasceu em santidade para a conquista da liberdade eterna. Hoje, eu não tenho mais vergonha do deserto. Numa mesa com as amigas, num encontro entre irmãos, em casa, na internet, em todo o lugar eu posso dizer: "o melhor lugar do mundo é no centro da vontade de Deus!". Se é assim, então estou no lugar mais alto, mais nobre e que me levará a conquistas eternas com Deus.
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Adna S Barbosa
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