As meninas, a Barbie e a mulher que querem ser [Parte 1]

14:05:00



Eu não tive um pai teólogo, nem uma mãe versada em questões acadêmicas sobre crianças. Meu pai, embora não fosse teólogo, era um estudioso da Bíblia. Aliás, era um amante. Minha mãe era ainda mais fascinada pela leitura da Palavra de Deus. As imagens dela sentada à beira da mesa, logo pela manhã, lendo a Bíblia, são vívidas em minha mente. O Espírito Santo, através dessa busca apaixonada por descobrir a vontade de Deus, levou meus pais a tomarem várias atitudes nada convencionais na educação de suas filhas: não tínhamos TV, não brincávamos de Barbie, não saíamos sem eles por perto, não podíamos brincar antes de lermos a Bíblia ou fazer o culto doméstico. Quando adolescente, meu pai sempre combateu a moda predominante, que normalmente vinha carregada de sensualidade e vulgaridade. Ele também não gostava de contar histórias da Bíblia usando imagens; ele lia a Bíblia tal como é. Ele nunca facilitou a linguagem, tornando-a mais infantil, para que compreendêssemos a verdade revelada. E sabe de uma coisa? Deu certo!

Claro, ao longo do tempo, à medida que aprendíamos e os valores se solidificavam, nossa liberdade era ampliada até chegar ao ponto deles deixarem que nós fizéssemos nossas próprias escolhas. Antes de casar, meu pai me chamou e disse: "Minha filha, copie todo o meu exemplo naquilo que foi bom e rejeite tudo o que fiz de errado. Você não pode copiar meus erros, como também não pode errar no que eu acertei". Suas palavras ainda me perseguem. Ele sempre foi um homem honesto, principalmente com os seus próprios erros e isso é o que torna meu pai grande.

Dito isso, quero falar de algo muito peculiar na educação que ele me deu como menina. Ele era muito preocupado com o que poderia influenciar nossas escolhas e isso se refletiu até mesmo nos brinquedos que adquiria para nós. Meninas gostam de bonecas, todos nós sabemos, e conosco não era diferente; mas ele não aceitava que determinadas bonecas fizessem parte da nossa coleção. A Barbie é um exemplo dessa decisão. 

Não a tínhamos e a razão que nos deram foi a de que ela não era um bom padrão de mulher para nós e que sobre ela repousava uma aura de malignidade. Nós nunca questionamos e crescemos muito bem sem ela. Não tivemos traumas ou coisas parecidas. Na verdade, meu pai era um crítico das imagens que retratavam pessoas. Ele era realmente alguém fora de série. As pessoas achavam que éramos reprimidas porque não fazíamos o que todo mundo fazia, mas ele não se importava com isso, pelo contrário, usava essas acusações como temas para conversas e ensinamentos. Textos como: "vós sois o sal da terra e a luz do mundo", "não vos conformeis com este mundo", "saí do meio deles e eu vos receberei", "sereis odiados por todos", "sede santos" eram a base que rendia boas conversas. 

Hoje eu sou mãe e tenho meus próprios filhos. Eu tento seguir os conselhos do meu pai, imitando-o naquilo que me trouxe edificação e que me fez convicta das verdades divinas. A Barbie nunca foi bem-vinda aqui, ainda que tenha herdado algumas. As que entraram, saíram depois de alguns dias. Numa busca para confirmar a veracidade dos ensinos da minha mãe, encontrei que a Barbie era mesmo algo a ser expulso do lar que se diz cristão. Vejamos.


UM POUCO DA HISTÓRIA

Este ano, a boneca que invadiu os lares das mais nobres e piedosas famílias completou 60 anos. Ela estreou como modelo de moda adolescente em traje de banho listrado na New York Toy Fair, em 9 de março de 1959.


A história da Barbie começou com Ruth Handler, uma empresária americana que co-fundou a empresa de brinquedos Mattel com o marido, Elliott. Enquanto Ruth observava sua filha pré-adolescente, Barbara, encenar histórias com suas bonecas de papel, ela se perguntou por que não havia uma boneca mais adulta para crianças que já não mais brincavam com bebês. Ela pensou em criar uma boneca 3D feminina que pudesse ser estilizada e vestida como uma boneca de papel.

Handler e sua família fizeram uma viagem à Suíça e lá conheceram a boneca que tanto sonhara. O nome da boneca era Bild-Lilli, mas não fora feita para crianças. A boneca era um símbolo sexual criado por Reinhard Beuthein. Lilli foi desenhada com um corpo exagerado, com um busto grande demais para o seu corpo. Era  uma garota loira que gostava de ouro e de homens ricos, usava roupas sensuais e trocava favores sexuais por meias e fumava. Bild-Lilli era vendida em tabacarias, bares e lojas de brinquedos com temas para adultos.

Ruth, então, compartilhou com seu marido a ideia de criar uma boneca em forma de mulher inspirada na tal boneca alemã. Seu marido tentou fazê-la desistir de tal projeto, assim como 
a equipe da Mattel. Essa boneca ideal seria controversa, impopular e muito difícil de produzir. Mas ela não desistiu. A boneca provou que o sonho de Ruth era possível. "Handler decidiu reinventar essa caricatura pornográfica como uma garota totalmente americana", disse a historiadora Carol Ockman. Levaram então Lilli para o Japão com a finalidade  de encontrar um fabricante para a nova boneca. O corpo e o rosto exagerados foram suavizados pela equipe de design da Mattel. Assim surgiu a boneca Barbie, ainda muito parecida muito com Lilli.

Desde o momento em que foi apresentada, a Barbie se mostrou controversa. A boneca de Ruth chegara para desafiar a imaginação das crianças, escreveu o historiador de negócios Robin Gerber.  Para as famílias daquela época, essa boneca fora feita para homens, não para meninas, e muitos disseram que Barbie era imoral. Ainda assim, a Mattel vendeu 300.000 em seu primeiro ano. 


QUEM ERA RUTH


Ruth Handler era uma magnata, filha mais nova de imigrantes judeus poloneses pobres. Ruth, desde muito nova, interessou-se pelo trabalho fora do lar inspirada em suas parentes da Europa Oriental. Aos 10 anos, ela adorava ficar na farmácia de sua irmã e também ser secretária de meio período do irmão advogado. Em seu aniversário de 16 anos, Ruth ganhou um Ford Cupê. Casou-se com Elliot Handler, que mais tarde tornou-se também seu parceiro de negócios. Foi Ruth quem pediu Elliot em casamento, quando tinha 22 anos.

A boneca recebeu o nome de Barbie e seu namorado de Ken em homenagem aos filhos: Barbara e Kenneth. Como mãe infeliz que fica em casa, Ruth contratou uma babá e voltou ao trabalho logo que teve as crianças.



A FILOSOFIA POR TRÁS DO PROJETO
Barbie, como sua idealizadora, é feminista

A boneca, no entanto, não veio para estimular as fantasias pornográficas masculinas, como era o seu protótipo. Ruth Handler desejava romper com os padrões tradicionais dos papeis femininos, como a maternidade. Ela não suportava ver que os bebês eram a única opção de brinquedo das meninas. Para ela, brincar com bebês reforçava o papel da mulher como mãe e isso era algo que precisava mudar.  Ela acreditava que brincar de boneca poderia moldar as escolhas do futuro e, por isso, doutrinar as meninas para serem boas mamães não era algo a ser estimulado; ela queria, através da brincadeira, despertar as fantasias de uma garota do futuro. 

"No passado, as bonecas eram bebês e isso ensinava as meninas a cuidarem de crianças. Barbie era um brinquedo revolucionário", disse MG Lord, autor da Forever Barbie. "Ela era a mulher que as mulheres reais não podiam se tornar". Com a Barbie, as meninas poderiam brincar de representar seu futuro não como mães, mas como garotas de carreira. “A mensagem da Barbie e de todos os seus apetrechos era muito parecida com a mensagem do livro de Helen Gurley Brown, 'Sex and the Single Girl' (1962)”, disse MG Lord ao The Post. "Ela incentivou as meninas não apenas à autonomia sexual, mas também à autonomia financeira, porque desde o início ela sempre vinha com algum tipo de objeto que a auxiliava em trabalhos fora do lar".


Ela era um símbolo da mulher independente, bonita, dona de si, rica, sempre cheia de acessórios.Os primeiros acessórios incluíam ternos de saia de tweed, óculos geek-chic e - em 1965 - o capacete de um astronauta. Em 1961, Handler apresentou o namorado de Barbie, o Ken, mas fez questão de o tornar o mais coadjuvante  possível: um acessório descartável para a vida já cheia de coisas que a Barbie tinha. "Ela era uma protofeminista", disse Lord.

Ruth sabia, mais do que nós, o poder que as imagens têm sobre a mente humana. Pena que nós, que deveríamos ter discernimento, não enxergamos isso. A filosofia de Handler era que "através da boneca, a menina poderia ser o que ela quisesse". O propósito vil com cara de inocente nada mais foi do que uma tentativa de minar as bases da família e da construção da identidade familiar nas meninas.

Nossas meigas meninas deixaram de acariciar e cuidar dos seus bebês para fantasiar sobre como ser uma mulher sensual e independente. Desde cedo, o sentimento natural das meninas por bebês está sendo minado e hoje já vemos a evolução desse plano maligno n
as bonecas-bruxas como a MonsterHigh.  Tudo isso é uma tentativa de destruir valores, destruir a história e construir uma nova baseada no que é repugnante, feio e amedrontador. Querem roubar das nossas crianças o que há de mais belo que é a sua pureza. Querem matar a família, os bebês, a base da vida.


Na próxima postagem, falarei sobre como a Barbie contribuiu para eliminar aquela divindade em torno da figura materna quase que totalmente da vida imaginativa das nossas crianças. 

Para adiantar, assistam ao vídeo abaixo. Em 2015, a Mattel lançou um comercial que transmitia a mensagem feminista: "Seja o que você quiser ser". A boneca é quase deixada no segundo plano e o foco fica na mensagem. O anúncio mostra meninas de mais ou menos seis a nove anos exercendo algumas profissões de adultos, como professora de faculdade, veterinária ou treinadora de time de futebol.









Falaremos sobre isso na próxima. Até lá!

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Adna S. Barbosa


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