Mulheres Invisíveis (Tema do Enem 2023)

17:52:00

Bem ao estilo “dilminiquês”, o tema da redação do Enem resolveu desafiar os alunos a escreverem sobre a “invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Mas qual é a necessidade de visibilidade de um trabalho que tem por natureza a privacidade e intimidade? Um “trabalho invisível” é necessariamente ruim? Quantos conseguem ser visíveis na sociedade? Bem poucos, não? E isso em qualquer profissão.

Mas aqui está um tema que reflete o nível mental dos que operam a educação no Brasil. Nossos adultos estacionaram no estágio da infância, naquele ponto onde eles se sentem o centro das atenções. E a educação só tem contribuído para esticar ainda mais a permanência das pessoas naquele estágio que Jean Piaget - para citar quem eles gostam -  chamou de pré-operacional ou simbólico (2 a 7 anos). Aquela fase quando começam a dominar a linguagem e os símbolos de comunicação, começam também a imitar, representar, imaginar e classificar. Fase na qual a criança é egocêntrica (se vê no centro de tudo e entende o mundo a partir da sua própria vivência) e não tem a capacidade de se colocar no lugar dos outros. 

Sim! Os idealizadores da prova do Enem pararam no estágio pré-operacional ou simbólico: não conseguem entender que a vida é mais do que o seu próprio mundo, que ganhar é dar, que atender a necessidade de alguém que precisa de mim é assumir um lugar de superioridade como pessoa. Eles estão presos na camada da infantilidade.

Essas mulheres vivem tão oprimidas porque estão presas no círculo vicioso do seu próprio ego. Quanto mais buscam afirmar-se na sociedade, mais deprimidas ficam, quanto mais visibilidade, mais o desespero as pega. O verdadeiro desafio é deixar de ter a si mesmas como ponto de referência e colocar a felicidade de alguém como meta da própria felicidade. É quando eu deixo de olhar para mim que eu me torno um ser humano pleno. 

Mulheres, saiam desta camada da autoreferência! Saiam do foco. Numa grande peça, o diretor é hierarquicamente superior ao ator que brilha no palco. Ninguém vê o diretor, mas sabe que tudo só está funcionando bem porque alguém treinou e esse alguém está lá, nos bastidores, cuidado para que tudo saia conforme o enredo do autor. Estar em oculto não deveria ser um problema numa sociedade que entende que para o mundo funcionar, há diferentes papeis a serem executados, e que os maiores, muitas vezes, ficam nas mãos de anônimos.

Os grandes monumentos do passado, como as catedrais da Idade Média, não tiveram o selo de um arquiteto ou construtor. Muitas mãos anônimas trabalharam em tempos e circunstâncias distintas, para formarem o que hoje nos encanta e perdura. Tal como eles, se quisermos construir seres que serão como catedrais que abrigam adoração, beleza e verdade, precisaremos nos desprender dos nossos próprios méritos para construir uma história cuja aliança eterna implica na cooperação de muitas mãos anônimas. Quando entendemos que  o nosso trabalho tem valor eterno, a visibilidade terrena deixa de ter valor. Quando nossos afetos almejam ter a grande história da nossa família construída como uma linda obra de tapeçaria pela mão de cada membro, ser reconhecido aqui é ambição vergonhosa.

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(Ouça o podcast)

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E você, mãe, consegue viver mantendo o extraordinário na invisibilidade, de modo que a mão esquerda ignore o que a mão direita faz? Isso não é algo que a mulher média consegue fazer por si mesma. Não é uma virtude humana. Você não vai conseguir fazer isso sozinha. 

Devo concordar que esta vida é dura, desumanamente dura para a mulher que não recebeu a Cristo. Ser invisível é gratificante e até empolgante para a mulher que trabalha para a eternidade, que trabalha para receber de Deus sua coroa e louvor.  A mulher que tem o amor de Deus esquece de si própria, no sentido exato da palavra. Na verdade, ela morreu para si mesma, com todas as suas virtudes e qualidades e vive escondida em Cristo, por quem brilha no mundo. Esta é a sua visibilidade.

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Adna S. Barbosa

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