A nova serpente

19:36:00




[O texto abaixo baseou-se nos argumentos usados pelo Ministro Luiz Fux na sessão que tratou do homeschooling. Adaptamos esses argumentos aos textos de Gênesis 2 e 3 que tratam da tentação de Eva. Portanto, deixo claro que o texto não é literal]



A tentação de Eva se repetiu na sessão do julgamento que tratou da educação domiciliar no STF. Satanás, na boca do Luiz Fux, nos levou a reconsiderarmos nossas vidas. Foi mais ou menos assim:

LUIZ FUX: “A educação domiciliar me incomoda. Os pais proibiram as crianças de experimentarem a alegria de usufruir do ambiente escolar. Eu sei, elas têm o mundo todo para explorar, mas seus pais sabem que no dia em que provarem o convívio escolar, os olhos delas se abrirão e conhecerão o bem e o mal, elas poderão ver os dois lados! Ah, não são esses mesmos pais que dizem que o conhecimento é desejável e que devemos explorá-lo? Como eles agora querem privá-las desse contato com o ambiente escolar? Eles não dizem ter a capacidade para discernir o mal que há no sistema escolar? E por que não usam isso também como uma forma de ensinar e de exigir melhorias?”


O imenso jardim torna-se pequeno do tamanho de uma árvore! Os olhos estão sobre um pequeno fruto, uma pequeníssima parte do mundo. Da mesma forma, o ensino que acontecia em todo o lugar, agora é mais interessante dentro de muros altamente erguidos, cercados de vigilantes espiando as crianças o tempo inteiro. Sendo que o engano fez da limitação, a possibilidade, e do mundo de conhecimento a ser explorado, uma prisão. 
E agora, aquela limitação passa a ser um problema. As pessoas que ouvem passam a reavaliar suas escolhas a partir dessa limitação. Aquele mundo de liberdade é esquecido e os olhos voltam-se para um lugar restrito, escuro, sombrio, para a limitação da escola. “...Existe esta única árvore aqui, no centro do jardim, sobre a qual Deus disse: “Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão”, foi a releitura de Eva da determinação divina após o discurso enviesado da serpente.


A verdade é que temos um mundo de possibilidades para educar nossos filhos, mas a serpente, na voz de Fux, coloca a limitação no centro do interesse. Vendo por essa perspectiva diabólica, a limitação e o ostracismo assume um lugar de destaque, de novas possibilidades. A educação está adquirindo um senso novo e perigoso. É aqui que os que estão sendo enganados aumentam o valor da limitação: “realmente, os defensores da educação domiciliar parecem não apoiar de forma alguma a escola e nem cogitam entrar nela!”, parecidos com Eva quando disse: "não podemos nem tocar no fruto". Mentira!

A escola passa a ser o centro das atenções e a possibilidade de não dispor dela passa a oferecer um risco de perdê-la para sempre. “Os profissionais da educação desaparecerão, os cursos de educação não farão mais sentido, muitos ficarão desempregados, as pesquisas dos profissionais da educação e psicólogos serão jogadas no lixo, não poderemos entrar mais nas escolas...”

Enquanto as atenções recaem sobre a escola como um lugar de conhecimento, ao mesmo tempo, as consequências devastadoras de se tornar escravo do sistema prisional - a educação escolar compulsória - são aliviadas. O “certamente morrerás”, a certeza de que a obrigação aniquilará nossa criatividade e desenvolvimento, passa a ser um simples alerta “para que não morrais”, ou seja, ela assume uma forma mais branda, menos certa.

A serpente, na pessoa de Fux, explora este ponto: “É certo que não morrereis”. E nesse momento ele revela um segredo aos que titubeiam:

“Vou lhe fazer um favor. Lamento ser aquele que vai lhe contar isso, mas você merece saber. Os pais educadores têm um motivo além do amor para esta vontade de educar em casa. A verdade é que eles querem prender os filhos, frustrar seu potencial. Você não compreende que eles sabem o que é bom e ruim? Eles sabem o que vai melhorar suas vidas e o que vai arruiná-las. Eles não querem o bem das crianças. Eles são maus e querem privá-las do conhecimento do mal necessário. Eles sabem que a escola trará aos filhos esse conhecimento sem o qual não poderiam viver livremente, considerando todas as possibilidades. Na escola, as crianças poderão ser iguais aos seus pais, conhecendo o mundo como eles conhecem. Pode ser um choque, mas eles estão mesmo é escondendo algo das crianças. Eles não são seus amigos; eles são seus rivais”.

Agora, essas crianças têm de superá-los, vencê-los. Sei que o mundo inteiro para educar parece ser uma ideia agradável; mas realmente, isso é um gigantesco esquema para manter as crianças na mesmice da tradição familiar, perpetuando dogmas ultrapassados, porque os pais se sentem ameaçados pelo que elas poderiam se tornar. A escola é a única chance de alcançar o verdadeiro potencial das crianças. “Sim, se as crianças não experimentarem a escola, o convívio escolar, certamente morrerão!”, essa é a ideia.

Essa foi uma mentira suficientemente grande para reinterpretar toda a educação e é suficientemente atraente para fazer com que os enganados creiam de fato num bem abstrato desconhecido, transferindo para a escola suas inclinações naturais para o cuidado com seus filhos.

A mentira disse que educar livremente é um mergulho suicida, que o serviço à família é servidão. Assim, pais começaram a sentir a ofensa de uma injustiça que, na realidade, não existia: a educação domiciliar vai limitar nossa liberdade de trabalhar e de dar às crianças a oportunidade de possuir o verdadeiro conhecimento do bem e do mal.

Depois de “esclarecidas”, as pessoas passam a considerar:

“Este fruto (a escola compulsória) não parece mortal, parece? De fato, me dá água na boca! Como um pai bom proibiria uma coisa tão boa? Ah, ela é tão bela! E com o conhecimento que ela nos dá, os filhos se libertarão da dependência dos pais. Mas se esses pais maldosos descobrirem que agora as crianças podem ser esclarecidas sobre esse plano, eles darão um jeito de eliminar a possibilidade de experimentar a escola e ficaremos estancados nesta prisão que é o mundo, para sempre. Vamos comer o fruto agora, enquanto temos a chance! Vamos tornar obrigatória a educação escolar compulsória antes que sejamos impedidos de usá-la!”

Pronto. Acabou de comer o fruto. São muitos os que estão mordendo o fruto sem saber que isso é a sua destruição. Educação compulsória é como aquela árvore: promete-nos conhecimento e rouba-nos a liberdade de conhecer todo o resto do mundo.

“Tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu” (3.6b).

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