A meta final da educação no lar

11:12:00

 

 

 Por vezes eu tento imaginar Jó educando seus filhos, disciplinando-os, ensinando-os a trabalhar, a terem bons modos, a serem bem quistos na sociedade. Jó deu-lhes, por certo, a melhor formação, mas não somente isso, Jó também era religioso, cumpria os rituais, temia fracassar diante de Deus. Ele era justo, íntegro, falava com sabedoria, era próspero. Ele chamou a atenção do reino celestial, de anjos e de demônios, e do próprio Deus. Eu penso que ele era um autêntico pai homeschooler: nada deixava passar sem que observasse diligentemente.

Tudo parecia bem até que Deus resolveu desnudar o coração de Jó e reordenar suas prioridades. O livro de Jó é a poesia da vida de um homem que fazia o que era reto sem conhecer aquEle que era a fonte da retidão. Ele fazia o que era certo com as motivações erradas. Ele temia ser apanhado pelo mal e por isso devotava sua vida a Deus. Jó precisava de um encontro, mais do que de regras. E Deus, que é misericordioso, tirou tudo de Jó para colocar as coisas no lugar correto e de modo correto em seu coração. Não era a própria retidão, não era sua inteligência e preparo, nem mesmo sua religiosidade. Para Jó e seus amigos, tudo era muito simples: quem planta o que é correto, colhe o que é bom. Simples assim. Foi preciso abalar suas estruturas para que entendesse que a vida é mais do que respostas prontas ou fórmulas que dão certo.

Não somos muito diferentes de Jó. Amamos regras, fórmulas prontas, previsibilidade. Tanto é que nos enchemos de livros, de cursos, de métodos. Nada disso é ruim, pelo contrário, todas essas coisas podem ser vestimentas decentes para boas intenções. O problema não está no invólucro, mas no conteúdo que precisa ser depurado. Ele se agrada da justiça, do esforço para agradá-Lo. Ele vê a retidão e se alegra com isso. “Ele o amou”, escreveu o evangelista sobre Jesus após observar o zelo fervoroso do jovem rico. Mas faltava algo: “vende tudo quanto tens e segue-me.” Ou seja: “desfaça-se dos seus métodos, das suas regras e venha comigo travar um relacionamento corpo a corpo.”

Se somos sinceros, Deus nos levará por caminhos que não estavam nos nossos planos para mostrar o que para Ele tem valor. O que será preciso acontecer para que entendamos que não são os métodos, não são cursos e mais cursos, regras ou obras que precisamos para sermos prósperos? Não basta desejar o que é bom e perseguir o que é reto. Não basta assumir a educação dos filhos e vaciná-los contra o mal que há no mundo. Deus quer mais de nós. Ele quer que a pilha de livros, a casa de campo, as habilidades educacionais, técnicas e proezas manuais sejam colocadas no altar e queimadas diante dEle. Ou seja, Ele quer a nós, mais do que podemos dar a Ele. Sacrifício vivo, santo e agradável a Ele que traduz-se numa vida de devoção intencional e despretensiosa. O inconformismo com o mundo será reordenado para o propósito certo quando for provocado pela transformação interior de um entendimento correto que ultrapassa as obras externas. Então, tudo fará sentido.

Não precisamos passar pelo que Jó passou. Deus usa pessoas e situações para trabalhar no nosso caráter. Não precisamos de métodos ou fórmulas, precisamos da revelação de Deus. “Eu te conheço de ouvir falar” - era o que o jovem rico podia dizer encontrou com Jesus, mas “os meus olhos te veem” era o que ele teria se largasse tudo para ganhar a Cristo. Jó perdeu tudo para entender que o seu tudo era somente Deus. Pedro deixou tudo para seguir Jesus, Paulo reputou como perda todas as coisas que conquistara para ganhar a Cristo. Quem perde essas coisas encontra nEle recursos inesgotáveis de sabedoria suficientes para a jornada no mundo. A sabedoria não está nos livros, ela é uma pessoa. Jesus foi feito por Deus sabedoria. Por isso, só a teremos quando nos encontrarmos com Ele em sincera devoção.

Neste início de ano, para nós que educamos em casa, facilmente nos perdemos nos planejamentos, conteúdos, métodos. Não devemos esquecer, porém, de que Deus quer primeiro a nós, quer nossa devoção, um amor por Ele que supera as expectativas humanas pelo sucesso e bem-estar. Ele quer que entendamos que sofrer ou até mesmo fracassar diante das metas do mundo é mais importante se vêm para que O ganhemos para sempre. Quando Deus for o nosso desejo, então estaremos no lugar certo. Eu espero, sinceramente, que neste ano eu ame mais a Sua presença do que a leitura de um livro, que eu ame mais conhecê-Lo do que ter sucesso acadêmico na educação domiciliar.

Este ano de 2021 é o ano do estar quieto para ver “o livramento do Senhor” (Êxodo 14:12-15). É o ano de entender que o muito trabalhar não é nada se não confiarmos que o Senhor é o verdadeiro edificador do lar que trabalha enquanto descansamos e para aqueles que nEle esperam (Salmo 127, Isaías 64:4).


Uma passagem que fala alto nos meus dias de mãe no lar é a do povo de Deus quando regressou para Jerusalém a fim de reconstruir os muros e o templo. Deus disse para Zorobabel: “não é por força nem por violência.” Recursos eram necessários para construir o templo, ou seja, possessões do povo e força dos indivíduos, tudo isso envolve poder. Mas Deus disse que não precisava dos recursos de muitos ou de um. Não seria a perspicácia do homem, a destreza do construtor, os recursos dos poderosos que trariam sucesso à obra da reconstrução. “É pelo meu Espírito,” disse o Senhor. Tudo o que precisamos é do Espírito Santo para realizar esta nobre tarefa de construção do nosso lar.


E, como não poderia ser diferente, meu lema para este novo ano é: “Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zacarias 4:6). "Que Deus me envie pobreza; que Deus me envie falta de recursos, e tire o poder de falar se for necessário, e me ajude apenas a gaguejar, se só assim puder obter Sua bênção" (Spurgeon). Sim, faça-me tudo isso se preciso for para que eu diga: “agora os meus olhos Te veem no rosto dos meus filhos, na minha voz, na minha família.” Esta é a meta final da educação no lar.
 
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Adna S. Barbosa

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