Kellyanne Conway, uma mulher nada feminista

19:40:00





Kellyanne Conway é a primeira mulher a gerenciar uma campanha presidencial vitoriosa. Ela assumiu o cargo quando havia poucas chances de vitória para Donald Trump. Ela era conhecida no meio político por sua empresa de pesquisas, a Polling Company / WomanTrend, criada em 1995, com o objetivo de fornecer estudos e análises das preocupações e aspirações das mulheres americanas. Conway completou 50 anos no dia da posse de Trump, e agora é conselheira do presidente na Casa Branca.

Ela é filha única de uma mãe solteira e cresceu em uma família de classe trabalhadora em Atco, NJ, numa casa com quatro mulheres católicas italianas. Foi a primeira a cursar uma universidade em sua família. Ela se formou na Universidade Trinity Washington e na Faculdade de Direito da Universidade George Washington. Aos 28 anos começou o seu negócio e tal como as moças de sua geração, ela casou aos 34 anos com seu marido, George, porque estava muito focada na carreira. Eles tiveram quatro filhos.


Ela concedeu uma entrevista ao jornal Washington Post e fez algumas revelações curiosas. 
Perguntada sobre a grande vantagem de tê-la como a primeira gerente de campanha a ganhar uma eleição presidencial, Conway afirmou que esse ponto, o fato de ser uma mulher, nunca foi pensado durante o processo. Ela disse: “Trump nunca falou: ‘Ei, isso vai ser ótimo. Vou fazer história como o primeiro republicano a ter como gerente de campanha uma mulher’. Ele nunca disse que isso o ajudaria a ganhar os votos das mulheres… Eu fui promovida com base na competência e também porque temos a mesma visão. Ele sabia que eu, com respeito, executaria sua visão. A candidatura, a voz, a escolha são de Trump. Eu sou apenas um membro de uma equipe incrível que está aqui para ajudar a executar seus planos”. 





Assim, Conway derruba uma das principais lutas do feminismo, a de que a mulher precisa ocupar cargos pelo simples fato de ser mulher. Mas a questão não é de gênero, mas de competência. Não foi dado à ela um importante cargo para cumprir a cota de mulheres. Ela está ali simplesmente porque se alinha à visão política de Trump e poderá auxiliá-lo na enorme tarefa de governar aquela nação. Ou seja, uma auxiliadora competente, idônea.

Conway não se considera uma feminista e disse que, para essa geração obcecada por títulos e rótulos, a grande conquista de sua vida e o seu mais importante título é o de “mamãe”. O movimento feminista, para ela, foi seqüestrado pelo movimento pró-aborto ou pelos sentimentos anti-homens. E completa: “Eu não sou anti-macho. Você não precisa ser a favor da mulher e chamar a si mesma de feminista, quando com ele [o feminismo] vem essa cultura anti-homem, em que os rapazes devem se sentar e estar calados na sala de aula. Nós temos todos esses comerciais que mostram que o homem é um bobo desprezível em sua casa. Não é assim que vejo os homens da minha vida, especialmente o meu filho de 12 anos. Considero-me uma pós-feminista. Eu me considero como uma daquelas mulheres que é fruto de suas escolhas, não uma vítima de suas circunstâncias”.


Quanto ao relacionamento com seu pai, Conway disse que ele a deixou quando ela era ainda muito jovem. Veio a conhecê-lo em torno dos 12 anos. Ele tinha outra família, na verdade, foi casado quatro vezes. No entanto, hoje ele faz parte ativamente de sua vida. E ela disse: “…em parte porque ele quer ser presente, e em parte porque ele merece nossa presença. Meu princípio, como uma criança vinda de um divórcio, é que você não precisa passar isso para a próxima geração. Se há mágoa, ou se há dor ou arrependimento, ou se houve raiva e tristeza, não há nenhuma razão para passar isso adiante”. Com isso, ela elimina a velha cantiga feminista de que divórcio é bom e faz bem às mulheres. Ela própria é fruto de um divórcio e ninguém melhor do que ela para saber o quanto dói relacionamentos quebrados. Se depender dela, esse ciclo já está quebrado.

Ela diz que quando vê a relação amorosa e positiva que seu esposo tem com suas três filhas e seu filho, pode perceber o quanto foi ruim ter sido rejeitada por seu pai e o quanto essa atitude teve um impacto negativo em algumas de suas escolhas. E à medida em que amadurece e adquire mais sabedoria, as lições que pode extrair disso é reconhecer o quanto é bom a presença do pai deles por perto, reafirmando o amor paterno.




Em vários momentos, o entrevistador a instiga a tecer comentários contra Trump, ao citar os momentos críticos da campanha presidencial. Ao vê-la responder com equilíbrio, o entrevistador apela e pergunta como ela explicou para seus quatro filhos que Trump seria um bom presidente, mesmo tendo falado de forma pejorativa das mulheres. Então, ela mostra como essa é uma provocação barata e então rebate afirmando que teve que explicar várias vezes às suas crianças que Hillary Clinton mentiu muitas vezes e que fez uma escolha diferente de sua mãe ao ser confrontada com um marido traidor. Muitas vezes precisou explicar aos seus filhos porque a mídia era tão injusta com Donald Trump. "Por que eles dizem isso sobre Donald Trump, mãe, se você está trabalhando para ele?”, eles perguntavam. “Porque crianças e outros adultos infelizmente pensam que se está na TV então é verdade”. Ao final disso, ataca o próprio jornal The Washington Post como um jornal que veicula manchetes injustas e falsas.

Quanto ao que falam dela nas redes sociais, ela diz que não vai deixar alguém redefini-la e desvendá-la com base em 140 caracteres ou menos. E essa é uma lição que tenta ensinar aos seus filhos. Perguntada sobre o que achava da mídia, se deveria mudar a forma como cobre os noticiários, ela respondeu que acreditava numa mídia livre e justa, mas que com a liberdade vem a responsabilidade. E que seria ótimo para os meios de comunicação serem menos presumidamente negativos e céticos e mais abertos e honestos. A obrigação das mídias é de entregar notícias, e não opinião mascarada de notícias, ou crenças pessoais mascaradas de notícias. Disse que ficou espantada ao ver respeitados jornais impressos e jornalistas eletrônicos admitir abertamente durante a campanha que Donald Trump obrigava-os a suspender os padrões objetivos de jornalismo.

Quanto à marcha das “mulheres” e o fato de ser pró-vida, foi perguntada porque era importante para ela esses temas. Ela disse que temia as formas como essa cultura está tornando-se demasiadamente habituada e infectada contra quão a vida preciosa é. Não importa se está no útero ou no final de anos. E que, daqui a 25 anos, ela gostaria de ser lembrada como uma excelente mãe e uma grande amiga, que trouxe honra e respeito ao trabalho que fez. “Eu quero ser vista como justa e como alguém que julgava honestamente as pessoas. Que teve compaixão e empatia por aqueles menos afortunados do que eu. Que fez a diferença dentro e fora do governo e que era gentil, generosa e honesta. Eu quero ser famosa pelos meus filhos. Eu quero que um deles encontre a cura do câncer, ou que ganhe o Prêmio Nobel da Paz, ou que seja a primeira mulher presidente. Uma de minhas filhas disse: 'Mãe, eu não quero ir para Washington e ser conhecida como a filha de Kellyanne Conway'. Eu disse: 'Bem, então cure o câncer e serei conhecida como a mãe de Claudia Conway'. É assim que eu olho".

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Entrevista concedida a Joe Heim, em 26 de janeiro de 2017, escritor do Washington Post.

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