A entrega que nos faz viver

15:39:00



Quem me ver defendendo certas posições da mulher no casamento e na sociedade pode me julgar como uma oprimida esposa, com um marido ciumento que me limita a vida dentro de quatro paredes. Pode achar que tive um pai opressor, que me restringia a liberdade e por não ter experimentado a verdadeira liberdade de uma mulher moderna, limito-me a advogar em causa própria.



Mas não é assim. A verdade é que o amor nunca brota de relações onde a liberdade foi destruída. Como poderia amar e defender pessoas que restringem meus pensamentos e minha razão, se são eles que me fazem ser livres até para dizer publicamente o que sinto aqui dentro?

Não há amor na violação da liberdade. Por que você acha que Deus fez o homem livre para escolher obedecê-Lo e amá-Lo? Não seria muito mais fácil programar Adão e Eva para que fizessem o que Ele desejava? Mas, por que a opção?

Ele nos fez diferentes dos animais e de toda a criação. Ele desejava mais de nós. Queria um ser semelhante a Ele mesmo, com razão, consciência e que pudesse assim, adorá-Lo livremente. O Seu Espírito age em nosso entendimento convencendo-nos, mas nós operamos nossas faculdades mentais para servi-Lo de todo entendimento, força, coração e vontade. "Ele ganha nossos corações pela revelação da verdade em amor e nos dá a liberdade de tirarmos nossas próprias conclusões", como disse Jennings. A lei da liberdade é um dos fundamentos principais do governo de Deus. Ele deseja liberdade e individualidade de suas criaturas inteligentes. É assim o amor. O amor requer liberdade.

Tive um pai zeloso, sim. Tive um pai que pegou na minha mão e me mostrou cada curva perigosa da vida. Enquanto minhas faculdades mentais estavam em construção, foi ele quem pensou por mim e me mostrou a verdade. Depois de amadurecida, ele corajosamente soltou minha mão e disse: "vai! Mas cuidado! Ignorar a liberdade que vem pela Verdade vai te meter em encrencas! Seja livre. Seja o que Deus te fez ser". Ele não cansava de ensinar-me e sempre me incentivou a desenvolver o meu próprio pensamento. Claro, houve situações de emergências, como aquelas em que gritamos ou arrastamos uma vida para que não se perca no precipício. Mas no dia a dia, foi assim que cresci. E assim fui. Nessa liberdade, escolhi aquele com quem iria dividir a vida. Falei com meu pai. Ele abençoou. Casei. E escolhi viver a liberdade que ele me ensinou e que eu vi em minha mãe, agora dentro da minha própria casa.

Tal como meu pai, pela graça de Deus, meu esposo me convidou a desenvolver uma amizade com ele em que somos companheiros inteligentes, iguais em valor, amor, lealdade e devoção. Pela sua entrega voluntária a mim (ninguém imagina o quanto ele se entrega, todos os dias...), fui arrastada pelo seu exemplo e aceitei que ele é digno da minha confiança. Como resposta a esse amor, voluntariamente me entrego.

Os de pouco entendimento acham que ser livre é não ter nenhuma lei ou restrição. Engana-se. "A verdadeira liberdade vê na restrição a lei das leis", disse Walt Whitman. Foi isso que descobri ao longo de três décadas. O auto-sacrifício, a entrega voluntária é o segredo para uma vida plena de satisfação. Assim como a cruz - objeto de vergonha - foi o meio para mostrar o amor, nossas renúncias voluntárias são o segredo para a vida plena.

Infelizmente, o mundo insiste em dizer: "persiga sua satisfação pessoal, mais do que tudo. Não deixe ninguém roubar sua liberdade". Como se liberdade fosse satisfazer seus desejos a todo o custo. Mas é escravo de si quem ouve a voz do seu coração. Sua razão está embotada e seus ouvidos, surdos. Nunca experimentará o bem. Mas é assim o engano: faz-nos crer que a vida é feita de meras sensações. O homem que vive de sensações não usa seu entendimento e vive como animais. No entanto, a vida é feita de pequenas doações, todos os dias. "Estando as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra... Os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr" (Eclesiastes 1:7). A água cai como chuva, precipita-se sobre a terra, corre pelos leitos, evapora-se e torna a descer...




E nesse ciclo, a vida um dia ao pó voltará, como era, e o espírito voltará a Deus, que o deu. Nesse intervalo de tempo, do pó ao pó, o segredo está em lançar (dar, mais uma vez) o pão sobre as águas, para depois achá-lo. O bem que fazemos aos outros sempre volta. Essa é a lei. Quem fica parado, quem não lança a semente sobre a terra, nunca segará, disse o sábio. O fluxo da vida se detém, quando a natureza interrompe esse ciclo. Experimente negar a água às plantas. Elas fatalmente morrerão. Se o céu cerrar e não derramar a chuva, a terra secará e a vida morrerá. Da mesma forma, quando buscamos somente tomar dos outros, lentamente morremos. É a entrega que nos faz viver.

Ouvi de um médico que o egoísmo é como uma doença, como um vírus. O vírus quer apenas tomar o controle das células e fazer com que elas produzam mais e mais vírus. Ele é tão mal que, se não for eliminado, mata e depois termina matando-se a si mesmo. Os glóbulos brancos, no entanto, tal como o amor, sacrificam-se a si mesmos para nos livrar da infecção. É assim o amor!

Sei que esses dois exemplos vivos do amor de Deus, meu pai e meu esposo, sempre fizeram o melhor por mim, sem se importar com seus próprios sentimentos. Não foram controlados pelo ego, senão pelo amor divino. E eu só posso agradecer.

Obrigada, Deus, por ter resgatado esses homens do egoísmo. Por ter enviado teu Filho Jesus para resgatar a confiança e tirar deles o medo e a insegurança, e assim deixá-los livres para cooperar Contigo na minha própria cura. Através dessas vidas, posso ver mais claramente o Teu amor. Posso sentir os Teus braços e o Teu calor. O Teu amor venceu. A entrega deles acabou com o meu egoísmo, e assim posso também me entregar, permitindo que o fluxo da vida continue nesse mundo. Obrigada, Senhor, por tudo.

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Primeira postagem em 4 de dezembro de 2015

(Adna S Barbosa)

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