O que acontece no cérebro de uma mulher quando ela se torna uma mãe

18:27:00

Da alegria e do apego à ansiedade e à proteção, o comportamento maternal começa com reações bioquímicas.





A artista Sarah Walker me disse uma vez que tornar-se mãe é como descobrir a existência de um novo e estranho quarto na casa onde vive. Eu sempre gostei de descrição de Walker porque é mais precisa do que a abreviação que a maioria das pessoas usa para a vida com um recém-nascido: tudo muda.

Muitas coisas de fato mudam, é claro, mas para as novas mães algumas das diferenças mais claras são também as mais íntimas: as alterações emocionais. E, ao que parece, também são em grande parte neurológicas.

Mesmo antes de uma mulher dar à luz, a gravidez mexe com a própria estrutura de seu cérebro, como me disseram vários neurologistas. Após séculos de observação das mudanças comportamentais em mães de primeira viagem, 
apenas recentemente os cientistas estão começando, definitivamente, a ligar a maneira como uma mulher age, com o que está acontecendo em seu córtex pré-frontal, no mesencéfalo, nos lobos parietais, e em outros lugares. A substância cinzenta torna-se mais concentrada. A atividade aumenta nas regiões que controlam a empatia, a ansiedade e a interação social. No nível mais básico, essas mudanças, motivadas por uma inundação de hormônios durante a gravidez e no período pós-parto, ajudam a mamãe a sentir-se atraída pelo seu bebê. Em outras palavras, os sentimentos maternos de sublime amor, de proteção feroz e de preocupação constante começam com reações no cérebro.

Mapear o cérebro materno é também, para muitos cientistas, a chave para entender por que tantas mamães experimentam uma grave ansiedade e depressão. Uma em cada seis mulheres sofre de depressão pós-parto, e muitas outras desenvolvem comportamentos compulsivos como lavar as mãos constantemente e verificar muitas vezes se o bebê está respirando.

"Isso é o que chamamos de um aspecto parecido com os comportamentos obsessivos compulsivos durante os primeiros meses, após a chegada do bebê", disse o pesquisador de cérebro materno Pilyoung Kim. "As mães relatam níveis muito altos de padrões de pensamentos sobre situações que elas não podem controlar. Elas estão constantemente pensando no bebê. Está saudável? Doente? Cheio?"
Os cientistas rastrearam diferenças na atividade cerebral 
as mulheres ao olhar fotos de seus próprios bebês e 
bebês desconhecidos. ( Society of Neuroscience)

"Em mães de primeira viagem, há mudanças em muitas áreas do cérebro," Kim continuou. "Há um crescimento das regiões cerebrais que cuidam da emoção, das relacionadas com a empatia, e também daquelas que chamamos de motivação 
materna - e eu acho que esta região poderia ser, em grande parte, relacionada com os comportamentos obsessivos compulsivos maternais. Em animais e em seres humanos, durante o período pós-parto, há um enorme desejo de cuidar de seu próprio filho".

Há várias regiões interconectadas do cérebro que guiam os comportamentos e humor maternais.

Um interesse particular dos pesquisadores é a área cerebral chamada amígdala, que ajuda no processo da memória e dirige reações emocionais como medo, ansiedade e agressividade.

Em um cérebro normal, a atividade na amígdala cresce nas semanas e meses após o parto. Este crescimento, acreditam os pesquisadores, está relacionado com a forma como a mãe se comporta - uma amígdala reforçada a torna hipersensível às necessidades do seu bebê - enquanto um coquetel de hormônios, que encontram mais receptores em uma amígdala maior, ajudam a criar um ciclo de feedback positivo que motiva o comportamento maternal. Ao apenas olhar para seu bebê, os centros de recompensa do cérebro de uma mãe acenderá, cientistas têm encontrado isso em vários estudos. Este circuito cerebral materno influencia o modo meloso de como uma mãe fala com o seu bebê, como ela fica mais atenta, e até mesmo o carinho que sente por ele. Não é surpreendente, então, que os danos na amígdala estão associados com níveis mais elevados de depressão em mães.

Danos na amígdala dos bebês podem afetar o vínculo mãe-filho também. No estudo de 2004 do  Journal of Neuroscience , os macacos infantis que tiveram lesões na 
amígdala eram menos propensos a vocalizar sua angústia, ou achar suas próprias mães entre outros macacos adultos. A capacidade de um recém-nascido de distinguir sua mãe entre pessoas está ligada à amígdala.

A atividade na amígdala também está associada a fortes sentimentos de uma mãe sobre seu próprio bebê versus os bebês em geral. Em um estudo sobre a resposta da amígdala (2011) em mães de primeira viagem, as mulheres relataram que sentiram-se mais positivas quando viam as fotos dos seus próprios bebês sorrindo em comparação com as fotos de outros bebês desconhecidos, e sua atividade cerebral refletiu tal discrepância. Cientistas registraram uma resposta mais forte no cérebro - na amígdala, no tálamo, e em outros lugares - entre as mães enquanto olhavam para as fotos de seus próprios bebês. 
Os pesquisadores descobriram que uma maior resposta da amígdala ao ver seus próprios filhos estava ligada à uma diminuição da ansiedade materna e a menos sintomas de depressão. Em outras palavras, as alterações cerebrais de uma nova mãe ajuda a motivá-la a cuidar de seu filho, mas elas também podem ajudar a amortecer o seu próprio estado emocional. A partir do estudo:
Assim, nosso estudo observou que uma maior resposta da amígdala ao ver o rosto do seu próprio filho provavelmente reflete aspectos mais positivos e pró-sociais da responsabilidade, sentimentos e experiências maternas. As mães que experimentam níveis mais elevados de ansiedade e mal-humor demonstraram menor resposta da amígdala ao rosto do seu próprio filho, e relataram atitudes e experiências maternais mais estressantes e mais negativas.

Muito do que acontece na amígdala de uma nova mãe tem a ver com os hormônios agindo sobre ela. A região tem uma elevada concentração de receptores hormonais como a oxitocina, que surgem durante a gravidez.

"Nós vimos mudanças nos níveis hormonais e cerebrais", disse a pesquisadora cerebral Ruth Feldman. "Os níveis de oxitocina maternal - o sistema responsável pela ligação mãe-bebê em todas as espécies de mamíferos - aumentam drasticamente durante a gravidez e no período pós-parto, e quanto mais a mãe estiver envolvida na educação dos seus filhos, maior será o aumento da oxitocina".




A oxitocina também aumenta à medida em que as mulheres olham para seus bebês, ou ouvem os barulhinhos de seus bebês, ou quando aconchegam seus bebês. Um aumento da oxitocina durante a amamentação pode explicar por que a descoberta de pesquisadores mostra que as mães que amamentam são mais sensíveis ao som dos gritos de seus bebês do que as mães que não amamentam. "As mães que amamentam apresentam um maior nível [cérebral] de respostas para o choro do bebê em comparação com as mães que usam leite artificial no primeiro mês", disse Kim. "É realmente muito interessante. Não sabemos se é o ato de amamentar, ou a oxitocina, ou qualquer outro fator."

O que os cientistas sabem, disse Feldman, é que tornar-se uma mãe parece muito, pelo menos no cérebro, com estar apaixonado. Isso ajuda a explicar como muitos pais novos descrevem a sensação quando se encontram com seus recém-nascidos. No nível cerebral, as redes que se tornam especialmente sensíveis são aquelas que envolvem a vigilância e a relação social - a amígdala - bem como as redes da dopamina que incentivam priorizar a criança. "Em nossa pesquisa, descobrimos que os períodos de maior ligação social envolvem alterações nos mesmos circuitos 'afiliados'", disse Feldman. "Nós mostramos que, durante os primeiros meses da paixão, algumas mudanças semelhantes ocorrem entre os parceiros românticos". Aliás, esse mesmo circuito é o que faz bebês sentirem tão bem o cheiro das suas mamães, segundo pesquisadores em um estudo de 2013 .

Os correlatos neurais do amor maternal e romântico , de 2003 (University College London)

As maiores alterações cerebrais ocorrem com o filho primogênito, embora não seja claro se o cérebro de uma mãe vai retornar ao que era antes do nascimento da criança. No entanto, as alterações cerebrais não estão limitadas às mães de primeira viagem.

Os homens mostram alterações cerebrais semelhantes quando estão profundamente envolvidos nos cuidados com o bebê. Mas não é a ocitocina que parece guiar o comportamento dos homens, da mesma maneira que faz nas mulheres, Feldman e outros pesquisadores relataram em um estudo no ano passado . Em vez disso, o cérebro dos pais é apoiado por uma rede sócio-cognitiva que se desenvolve no cérebro de ambos os sexos, mais tarde na vida, enquanto as mulheres parecem estar envolvidas numa "constelação cerebral de hormônios comportamentais" que as preparam automaticamente para a maternidade. Outra maneira de ver isso: o projeto para o comportamento maternal existe no cérebro antes mesmo que a mulher tenha filhos.

Talvez, então, a maternidade é realmente como um espaço secreto no cérebro de uma mulher, esperando para ser descoberto.


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