Mulher: símbolo do universal

17:12:00




Não é difícil enxergar o porquê do feminino ter-se tornado a insígnia do universal e o masculino, do específico e superior. Há dois gigantescos fatos da natureza que assim fixaram as coisas: em primeiro lugar, a mulher que cumprisse com freqüência suas funções literalmente não poderia ser especialmente proeminente no experimento e na aventura; em segundo lugar, a mesma operação natural a cercava de crianças muito pequenas, que não requeriam o ensino de nada menos que tudo quanto existe. Bebês não têm necessidade de aprender um ofício, mas de serem introduzidos num mundo. A mulher, enfim, é geralmente encerrada numa casa com um ser humano no preciso momento em que ele começa a formular todas as perguntas que existem e algumas que não existem. Seria no mínimo estranho se ela conservasse qualquer traço da minuciosa estreiteza do especialista. 

Pois bem, se alguém diz que essa função de prestar uma instrução geral (ainda que livre das regras e horários modernos e exercida de modo mais espontâneo por uma pessoa mais protegida) é em si mesma severa e opressora, tento compreender seu ponto de vista. A única resposta que lhe posso dar é a de que, se nossa raça julgou conveniente lançar tal carga sobre as mulheres, o fez para conservar o senso comum no mundo. Mas, quando as pessoas começam a falar dessa função doméstica não mais como algo somente difícil, mas atribuem-lhe os rótulos “trivial” e “monótona”, então eu simplesmente desisto de discutir. Pois por mais que empenhe toda a energia da imaginação não consigo entender o que querem dizer com isso. Quando, por exemplo, chama-se a domesticidade de fatigante, toda a dificuldade surge do duplo sentido da palavra. Se fatigante designa apenas um trabalho terrivelmente pesado, tenho de admitir que o trabalho doméstico de fato fatiga a mulher, assim como fatigaria um homem o trabalho na catedral de Amiens ou detrás de um canhão em Trafalgar. Mas, se fatigante designa um trabalho que, além de pesado, é insignificante, insosso e de pouca importância para a alma, então – como já disse – desisto; não sei o que significam tais palavras. Ser a rainha Elizabeth numa esfera delimitada, tomando decisões sobre vendas, banquetes, trabalhos e feriados; ser Whiteley numa determinada esfera, fornecendo brinquedos, botas, lençóis, tortas e livros; ser Aristóteles numa determinada esfera, ensinando moral, bons modos, teologia e higiene – entendo como isso poderia exaurir a mente, mas definitivamente não consigo imaginar como poderia estreitá-la. Como é que ensinar a regra de três para as crianças dos outros pode ser uma grande e ampla profissão e ensinar suas próprias crianças a respeito do universo, uma profissão restrita? Como é que ser o mesmo para todos pode ser grandioso, e ser tudo para alguém, algo limitado? Não pode ser. A função de uma mulher é trabalhosa, mas porque tem uma amplitude colossal e não porque tenha um alcance diminuto. Compadecer-me-ei da mulher pela imensidade de sua tarefa; jamais me compadecerei dela por sua pequenez.

...Muito do recente problema oficial sobre a mulher originou-se do fato de que ela transfere para o campo da dúvida e da justificação aquela sagrada obstinação apropriada apenas às coisas primeiras que a mulher foi incumbida de guardar. Seus próprios filhos, seu próprio altar devem ser uma questão de princípios – ou, se preferirem, uma questão de preconceito. As mulheres modernas defendem seus escritórios com toda a fúria da domesticidade. Elas lutam pela escrivaninha e pela máquina de escrever como se pela lareira e pelo lar, e desenvolvem uma espécie de feroz postura de esposa no interesse do chefe invisível da empresa. É por isso que fazem tão bem o trabalho de escritório; e é por isso que não devem fazê-lo.

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G.K. Chesterton


Para complementar, assista ao vídeo abaixo: 3 Rainhas


3 Queens from Matt Bieler on Vimeo.


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2 comentários

  1. Texto inspirador!
    É exatamente este o meu dilema: compreender a importância de a mulher ser a mãe e a rainha do lar. Em minha vida sempre trabalhei com muito empenho fora de casa, mas ao mesmo tempo aprendi com a minha mãe a fazer todas as tarefas domésticas com eficiência.
    E agora chegando quase aos meus 30 anos sinto um vazio muito grande, como se tudo o que fiz e todo o trabalho fora da minha casa não fizesse mais sentido.
    Certo dia falei ao meu marido que não há empresa no mundo que consiga absorver todas as minhas habilidades, tanto quanto uma criança precisa delas. E olha que já trabalhei em vários lugares e com diferentes funções.
    Isso se aplica a maioria das mulheres, basta que analisem a si mesmas. Mas ainda conheço muitas que abominam a vida doméstica, como eu fazia...
    Parece que descobri o sentido e a missão da minha vida, mas não consigo desapegar do dinheiro, que no momento está falando mais alto.
    É difícil...

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    1. Parece que a nossa geração aprenderá com a decepção... Como você já vi muitas outras que abandonaram a carreira para seguir a vida doméstica. E conheço outras que seguem a carreira lamentando a impossibilidade de estar no lar porque a família depende financeiramente do seu trabalho.

      Quanto mais mulheres assumirem de volta os seus papeis e desocuparem o lugar dos homens, mais oportunidades daremos para eles de cumprirem seu dever de prover... Mas, não precisamos ficar financeiramente improdutivas! As tecnologias abriram as portas para trabalhos que não exigem de nós horário, submissão a chefes, etc. Podemos fazer uso disso para o bem da nossa família, e do nosso.

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